quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Capítulo 37

A casa está cheia.O clima é festivo.As pessoas riem e falam ao mesmo tempo.
É 31 de Dezembro,último dia do ano.Aline ouve o barulho de música e vozes da varanda,onde observa o céu já brilhante decorrente dos fogos que já começam a ser visto,todavia ainda com pouca intensidade.
A garota levou o copo à boca e engoliu lentamente o líquido refrescante naquela noite tão calorosa.Apreciava essa época do ano,e gostava também de fazer planos para o próximos anos que iniciariam,embora não conseguisse cumprir todos. Esse ano pretendia apenas se dedicar aos estudos,já que dois dias antes recebera a feliz notícia de que havia passado no vestibular,a exemplo de seus amigos e seu primo,e também dedicar-se-ia à sua vida com Deus,que considerava a área fundamental de sua vida.
Aline retirou-se da varanda e caminhou até a sala,onde sua família e parentes permaneciam em animada reunião.Leandra mantinha-se o tempo todo ao lado da avó,que permanecia sentada no sofá.Karina “papeava” com a tia Carmem, que aliás,tinha muito em comum com a sobrinha,principalmente em seu jeito esnobe.Edna,Betty e Helena não cessavam de sorrir e falar em voz alta.Os homens da casa,Carlos,Elias e Alberto,pai de Carlos,mantinham uma conversa,ao que Aline percebera,sobre a Bíblia.Já Rodrigo permanecia quieto em um canto,com o olhar vago e um copo de refrigerante em mãos.Se não conhecesse seu primo tão bem,Aline diria que o garoto estava triste.Mas como já havia se acostumado com o jeito “quietão” do rapaz,sabia que aquele era seu estado normal.
-Tá se divertindo,primo?-a garota perguntou,aproximando-se.
-Hã?-perguntou o rapaz, como que despertando de profunda meditação.
-Perguntei se está se divertindo-repetiu Aline.
-Ah sim,to.
Aline sorriu.
-Ao seu modo,né?
-É...-respondeu o garoto,com um meio sorriso.
-E aí,tá animado pra festa na casa do Rick?
-Não sei se vou...
-Por quê?
Rodrigo abaixou a cabeça,fingindo olhar alguma coisa dentro do copo.
-É por causa da Vivian,né?-previu Aline.
-Não...
-É sim,Rodrigo.Eu te conheço muito bem.
-Não é exatamente por causa dela,Aline.É que eu fico sem jeito perto dela e daquele cara.
-Eu entendo.Mas você vai ter que se acostumar.Vamos todos morar na República e provavelmente o namorado dela estará sempre por lá.
-Eu sei...Mas não é fácil.
Aline ficou olhando para o primo,em silêncio.
-Mas eu vou tentar-disse o garoto,levantando a cabeça.
-É isso aí primo.-disse Aline,sorrindo.
O telefone tocou.Aline correu a vista pela sala para ver se alguém se habilitava a atender,mas aparentemente ninguém ouvira,ou fingiram não ouvir.A garota atravessou a sala e pegou o aparelho,correndo pra varanda para atender.
-Alô?
-Alô...-respondeu a voz da pessoa do outro lado da linha, em meio a um grande barulho.
-Quem tá falando?
-É o...-principiou a pessoa,todavia tendo a voz “cortada” antes do término da resposta.
-Quem?-Aline insistiu.A ligação caiu.
A garota desligou o telefone e o levou de volta para a sala.
-Quem era?-Rodrigo indagou no momento em que Aline se reaproximava.
-Não sei.A ligação tava muito ruim,e não consegui ouvir quase nada.
-Acho que a pessoa vai tentar ligar de novo.
-É...
O tempo foi passando,mas a tal pessoa não voltou a ligar.
O relógio apontou 23:30.Aline lembrou da festa na casa de Rick,que provavelmente já havia começado a algum tempo.
-E aí Rodrigo,vamos ou não vamos?
-Pra onde?
-Pra casa do Rick!
-Ah é,vamos.
-Vou chamar a Karina,e você chama sua irmã,tá?Ela tá meio “grilada” comigo.-disse Aline,saindo,deixando uma expressão confusa no rosto do primo.
-Vai à festa na casa do Rick,Káh?-perguntou a garota,aproximando-se do sofá em que estavam a irmã e a tia Carmem.
-Vou sim-respondeu a garota,colocando o copo de refrigerante na mesinha ao lado.
-Vão aonde?-perguntou Carmem.
-Numa festa na casa de um amigo nosso-respondeu Karina.
-É longe?
-Não.
-Mesmo assim eu levo vocês-disse a mulher,levantando-se-É perigoso saírem por aí essa hora.
-Mas Carmem,é Reveillon,tá todo mundo na rua-disse Leandra,aproximando-se,tendo a seu lado Rodrigo.
-Mesmo assim.É bom não “dar bobeira”.
Aline despediu-se rapidamente de todos e dirigiu-se ao carro da tia juntamente com os demais.A casa de Rick não ficava longe,sendo assim em dois minutos apenas chegaram.
-A que horas venho buscá-los?-indagou Carmem,depois que os quatro jovens desceram do carro.
-00:30-respondeu Aline-Não demoraremos muito,a não ser que alguém queira ficar mais-disse a garota,olhando para os demais.Ninguém se manifestou,o que a fez deduzir que todos concordaram em voltar aquele horário.
A casa em que Rick morava era na verdade um apartamento.Depois de esperarem na portaria,para que o porteiro avisasse a chegada das visitas,o quarteto finalmente chegou ao andar em que o amigo morava.Aline apertou a campainha.Ninguém atendeu a porta.
-Acho que ninguém ouviu-disse Rodrigo.
-Também,com o barulho que tá aí dentro!-completou Karina.
Aline apertou a campainha mais 3 vezes,até que ouviu o barulho de alguém destrancando a porta.
-Hello!-exclamou Richard ao abrir a porta e ver o pequeno grupo-Entrem!
Os quatro entraram,e Rick pôs-se a cumprimentar cada um,deixando Aline por último.
-Oi Aline-disse o rapaz,dando um abraço apertado na amiga.
-Olá Rick.
Richard continuou abraçado com Aline,que ficou constrangida pelo olhar dos outros que os observavam.
-Já tá bom,Rick-cochichou a garota no ouvido do rapaz.
-Ah é mesmo-o garoto falou,soltando a amiga,que atentava para o olhar ciumento de Karina.
-Pensei que não vinham mais-continuou Richard.
-É que lá em casa também tivemos uma festa-esclareceu Karina.
-Entendo...
-Oiii!-exclamou Fernando chegando de repente e abraçando Aline.
-Oi,Fernando-disse Aline,sem jeito,enquanto era abraçada pelo amigo.
-Pensei que não vinha.
-É que...
-É que também teve uma festa na casa dela-disse Richard,interrompendo a frase de Aline.
-Ah sim...-disse Fernando,encarando Richard.
-Hello!-cumprimentou Johnny,interrompendo os olhares mútuos dos dois rapazes.
-Oi Johnny-respondeu Aline,recebendo um carinhoso abraço do rapaz.
-Pensei que não vinha!
-É que teve festa na casa dela também!-responderam Rick e Fernando ao mesmo tempo.
Todos sorriram.
Uma senhora alta,branca,de olhos claros,cabelos loiros e expressão simpática achegou-se ao pequeno grupo.
-Oi Aline-disse a mulher,abraçando a garota.Aline correspondeu confusa ao abraço.De onde aquela mulher a conhecia?
-Aline,essa é minha mãe,Nancy-Rick apresentou.
Aline ficou boquiaberta.Rick e Johnny não pareciam fisicamente em nada com aquela mulher.Sem falar que ela parecia muito jovem.
Nancy sorriu.
-O Rick fala muito em você,Aline.
-É mesmo?-indagou a garota,sem jeito.
-E você é mesmo muito bonita-disse a mulher,balançando a cabeça afirmativamente.
-Obrigada-disse Aline,lançando um olhar para Rick,que diante de seus comentários que a mãe revelara ficara um pouco sem jeito.
-Sinta-se à vontade-disse Nancy,saindo.
Além dos já citados,estavam também presentes na festa Vivian e Fábio,Lucas e Patrícia,e mais alguns jovens da igreja,além dos amigos da família de Rick.
Aline sentou-se ao lado de Rodrigo no sofá.Observou o ambiente.O apartamento não era grande,porém muito gracioso.
Aline iniciou a puxar assunto com o primo,tencionando fugir das “investidas” de Fernando,que insistia em ficar por perto.Foi salva finalmente por Leandra,que enfim conseguiu fisgar a atenção do rapaz.Karina permanecia séria,sentada também ao lado de Rodrigo,sendo observada por Johnny,que embora longe,tinha o olhar visivelmente fixado na garota.
Depois de muito tomar refrigerante,Aline sentiu necessidade de ir ao banheiro.Levantou-se e dirigiu-se até o cômodo,que ficava no corredor ao lado.Ao chegar na porta observou que havia uma sacada logo ao fim do corredor.
Após sair do banheiro,a garota principiou a caminhar em direção à sala,dando uma rápida olhadela para trás.A sacada já não estava vazia.Rick se encontrava lá,contemplativo,a olhar para o céu estrelado.Aline voltou para trás,indo na direção do amigo,e aproximou-se tocando-lhe o ombro levemente.
-Ah,é você...-disse o garoto virando-se,surpreso.
-Tá fazendo o que aí isolado?
-Contemplando a grande expansão e seu exército,que Deus criou.-respondeu o rapaz,sorrindo.
Aline ficou lado a lado com o amigo e principiou a observar o céu também.Os dois permaneceram calados,contemplativos.Um rojão perpassou o céu,e Richard olhou para Aline.A garota olhou para o garoto e temeu,adivinhando que este lhe perguntaria algo.
-Já pensou na minha proposta?
Aline baixou a cabeça.Olhou novamente para o amigo e respondeu,hesitante:
-Sim.
Richard continuou olhando para a garota,esperando por seu esclarecimento.
-Olha Rick...-principiou,sem jeito-Nós somos bons amigos,e não gostaria de atrapalhar nossa amizade.
-Como assim?
-A nossa amizade é muito legal,e eu tenho medo de estragá-la.
-Mas namorados também são amigos.
Aline baixou o olhar,sem jeito.
-É,mas nós...Bem,nós somos apenas amigos.
Rick continuou em silêncio.Aline encarou firmemente os olhos do amigo.
-Eu te vejo apenas como amigo,Rick.Não posso aceitar ser sua namorada.
O rapaz permaneceu olhando para a garota,sério,todavia com uma ponta de decepção estampada no rosto.
-Eu já esperava por essa resposta.Tudo bem Aline,continuaremos a ser amigos-disse finalmente.
Aline lançou um olhar carinhoso para Richard.Uma onda de fogos de artifício estourou no céu,seguido por vários outros que soavam cada vez com mais estrépito.Richard olhou seu relógio de pulso.
-Meia-noite.Feliz ano novo Aline-disse o rapaz,a abraçando.
-Feliz ano novo Rick.
Os dois continuaram abraçados por instantes,e dessa vez Aline não preocupou-se em desvencilhar-se do carinho do amigo.Rick aproximou-se do ouvido da garota,e murmurou:
-Sempre amigos...
Aline sorriu.
-Sempre amigos-repetiu.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Capítulo 36

Aline subiu na cadeira e ajeitou a bolinha que despencava da árvore de Natal.Desceu e acendeu as luzinhas coloridas espalhadas pela árvore e ficou a observar sua “obra-prima”.Estava um primor.
Era 24 de Dezembro.A ceia já estava pronta e a casa decorada em pleno clima de Natal.Aline correu a vista pela grande sala para certificar-se se estava tudo em ordem.A mesa,na cozinha já estava devidamente pronta e enfeitada com os itens indispensáveis da data.Só tinha uma coisa que ainda não estava em ordem:sua aparência.A garota tinha os cabelos bagunçados, sua roupa já surrada pelo constante movimento e seu aspecto não devia estar nada agradável.Olhou para o relógio e viu que passava das 6 horas.Os familiares haviam combinado de reunir-se às 7.A garota correu ao quarto,observando durante o percurso que a maioria de seus familiares já estavam prontos para a festa.Tomou um rápido banho e dirigiu-se ao quarto.Pegou o secador de Karina e secou o cabelo rapidamente, só pra tirar a umidade.Abriu o guarda-roupa e pegou seu vestido novo.Depois de dar um “trato” no visual,desceu à sala, ansiosa por ver se os convidados já haviam chegado.Tia Betty já estava presente juntamente com o marido,Elias.
-Uau tá linda!-elogiou a mulher ao ver Aline descendo as escadas.A garota cumprimentou a tia e saudou o tio Elias, que se encontrava sentado no sofá logo ao lado da esposa.
-Feliz Natal querida-cumprimentou o tio à sobrinha, com seu jeito sério.Sempre que a garota olhava para o tio parecia que via Rodrigo no futuro.O rapaz parecia muito com o pai fisicamente, e até o temperamento de ambos era semelhante.
Aproveitando que os familiares conversavam,Aline saiu de “fininho” e foi até a varanda.Observou a rua já um pouco escura, brilhante pelas diversas luzinhas que piscavam aqui e acolá.A rua estava cheia.Muitas casas recebiam seus convidados especiais para a data,e outras via-se que já estavam cheias.
Um carro parou à frente da casa de Aline.A garota observou bem as duas figuras dentro do carro e reconheceu-as.Eram Carmem e Edna, irmãs gêmeas de Carlos.Aline correu à sala e anunciou a chegada das visitas, indo em seguida abrir o portão.As duas mulheres entraram na casa,sorridentes.Carmem era alta, magra, e tinha o cabelo longo escorrido e olhos verdes.Karina parecia muito com ela.Já sua irmã,Edna, era um pouco mais baixa, não tão magra e tinha os cabelos longos encaracolados.Eram gêmeas fraternas.
-Oi querida! Exclamou Carmem passando por Aline e correndo em direção a Karina.Aline olhou a cena,decepcionada, pois sua tia passara primeiramente por ela e nem sequer a cumprimentara.Edna abraçou e beijou a sobrinha carinhosamente.
-Como está Aline?
-Bem,tia-respondeu Aline, sorrindo.
Carmem, como se só naquele instante visse Aline, dirigiu-se à ela para cumprimentá-la.A garota abraçou a tia, dando uma olhadela para Edna, que lançou um olhar amigável para a sobrinha e em seguida balançou a cabeça negativamente, evidenciando que presenciou a cena que deixara a sobrinha decepcionada.Enquanto iniciava-se os cumprimentos da família,Aline retirou-se para a cozinha, onde sentou-se à mesa e ficou “beliscando” algumas uvas passas e “namorando” o banquete sobre a mesa.Leandra achegou-se à prima e sentou-se à sua frente.
-Quem você tirou no amigo secreto da igreja,Aline?
-Não posso dizer ainda,Lê.Hoje você descobre quando for a hora.
-Ai eu não gostei de quem eu tirei.
-Quem você tirou?
-A Patrícia.
-E por que você não gostou?
-Ah sei lá...Eu queria ter tirado o Fernando, ou o Johnny, ou quem sabe o Rick.
-É?-perguntou Aline, achando engraçado o comentário da prima.Leandra tinha mais tendência a estar perto dos garotos.
-Você tirou o Rick?-perguntou a garotinha.
-Por que você quer saber?
-Ah é que seria bonitinho se você tirasse ele.
-Bonitinho?-perguntou Aline, sorrindo.
-É.Será que ele tirou você?
-Sei lá...-disse Aline, pegando outra passa ao mesmo tempo que Leandra também pegava uma.
-Não é pra comer isso!-repreendeu Helena, adentrando a cozinha e dando um tapinha na mão das meninas-Vamos iniciar nossa ceia em família.
Todos se achegaram à cozinha e sentaram à mesa.Edna sentou ao lado esquerdo de Aline, enquanto Rodrigo sentou ao lado direito da garota.Helena preferira trocar a mesa do jantar,pois como haveria muitas pessoas à mesa,precisaram de uma maior.Quando todos acomodaram-se,Elias pôs-se de pé e propôs fazerem uma oração.O homem iniciou sua prece em voz alta e os outros o acompanharam,orando em pensamento,com os olhos fechados.Tão logo Elias, com sua voz firme e grave, encerrou a oração todos puseram a servir-se ansiosamente daquele tão vistoso banquete.
Aline serviu-se calmamente, enquanto ouvia a conversa animada dos familiares presentes.A garota gostava daquele clima e sentia-se bem reunida com a família.Todos conversavam amigavelmente,e até mesmo a tia Carmem, que não era lá de humor tão agradável,se tornava amistosa naquele momento.Aline tirou seu pedaço do peru e o saboreou alegremente.Era agradável aquele clima natalino,em que podiam relembrar o nascimento de seu Salvador e o comemorar.Pena que ninguém sequer tocava no assunto.Parecia mais que o personagem mais em evidência era o Papai Noel.A menina teve vontade de participar da Cantata na igreja,onde o coral e a orquestra cantavam e tocavam apenas músicas natalinas.Lá sim poderia refletir nas letras das músicas o verdadeiro sentido do Natal.
Tão logo acabaram de cear,Betty anunciou:
-Amigo secreto!
Todos levantaram-se e dirigiram-se à sala.Cada um com seu presentes em mãos sentaram-se no sofá, em torno do grande cômodo.O escolhido para iniciar a brincadeira foi Alberto, pai de Carlos.O homem pôs-se de pé e começou a descrever sua amiga secreta, e pela descrição evidenciando que tratava-se de uma mulher animada e de jeito alegre,Leandra logo desvendou o mistério e gritou que tratava-se de sua mãe.Confirmada a sentença,Betty pôs-se de pé e iniciou sua descrição, transparecendo que não “ ia muito com a cara” da tal amiga secreta, sendo assim logo Aline supôs que tratava-se de sua outra tia,Carmem.Dito e feito.Carmem se pôs de pé,não muito satisfeita com a descrição que recebera,e pôs-se a descrever sua amiga oculta,com o jeito “esnobe” que fez-se muito familiar a Aline.
-Ela é bonitinha,jeitosa, só não tem estilo e nem muita vaidade-disse a mulher, com o jeito mais desagradável que se pode imaginar.
Todos olharam para Aline, pois era ela quem costumava receber esse tipo de crítica da tia.A menina levantou-se sem jeito e pegou seu presente,ao mesmo tempo que recebia um abraço da tia.Ao som de”abre!abre!” seguida de palmas, a garota desembrulhou seu presente e viu que tratava-se de um estojo de maquiagem. “Mas isso devia pra sobrinha preferida dela”-pensou.Aline deu um largo sorriso e murmurou um “obrigado” animado mesmo não tendo apreciado tanto assim o presente.
A garota pegou o presente de seu amigo secreto e iniciou sua descrição:
-Meu amigo secreto é um homem que muito teve participação na minha criação,é uma pessoa espetacular e não sei nem como seria minha vida sem ele!
Pelos elogios e “rasgação de seda”, logo descobriram que o amigo oculto da garota tratava-se do pai desta,Carlos.O homem levantou-se com um sorriso de “orelha a orelha” e abraçou a filha, agradecendo repetidamente os elogios e o presente.
A brincadeira continuou animada e Aline logo preocupou-se com o horário.Olhou para o relógio e viu que já ia dar 9 horas.Provavelmente a cantata na igreja já estaria acabando e a galera já deveria estar dirigindo-se à casa de Lucas.
Após Rodrigo,Leandra e Karina terminarem sua participação na brincadeira,Aline apressou-os a dirigirem-se à casa do amigo.
Depois de convencê-los a saírem do divertido clima dentro da casa, eles finalmente saíram.Ao atravessarem o portão, um carro estacionou em frente ao carro da tia de Aline.A garota percebeu que tratava-se de Johnny e Rick.O último saiu do veículo e correu a abraçar Aline.
-Feliz Natal!
-Feliz Natal,Rick-disse a garota sorrindo ao receber o abraço do amigo.
Richard cumprimentou os outros, enquanto Aline foi cumprimentar Johnny.
-Feliz Natal Johnny!-disse a garota com um largo sorriso.
-Feliz Natal -disse o rapaz, abraçando a garota.
-O que fazem aqui?-perguntou a menina aos dois irmãos, enquanto Rick aproximava-se
-Viemos buscá-los para ir à casa do Lucas-esclareceu Richard.
Os outros aproximaram-se e Johnny pôs-se a cumprimentá-los com um abraço.Ao chegar na vez de cumprimentar Karina,Aline percebeu um olhar especial em Johnny,ao que Karina correspondeu indiferentemente,sem sequer olhar direito para o rapaz.
Todos adentraram ao carro de Johnny e dirigiram-se rapidamente à casa de Lucas.Ao chegarem,a maioria dos jovens já se faziam presente e o clima estava bem animado.Aline logo avistou Vivian ao lado de Patrícia e dirigiu-se até lá.Abraçou a cada uma,cumprimentando-as e sentou-se ao lado das mesmas.
-Vocês foram à Cantata de Natal na igreja?-perguntou às garotas.
-Fomos.Por que você não foi?Estava linda!-respondeu Patricia.
-É que meus parentes foram lá pra casa e eu precisei ficar pra participar da reunião familar.
Patrícia balançou a cabeça,compreensiva.Aline olhou para Vivian e percebeu que esta não estava com aspecto muito contente.
-Cadê o Fábio,Vivian?
-Ele não pôde vir-disse a garota, com uma expressão não muito satisfeita.
Aline e Patrícia entreolharam-se,confusas.Lucas anunciou o início do amigo secreto, já que todos já faziam-se presentes.O escolhido a iniciar a brincadeira foi Fernando, já que este parecia o mais animado e sorridente da festa.O rapaz colocou-se na frente e iniciou sua descrição.
-A minha amiga secreta é uma garota espetacular, tem um sorriso lindo e um jeito tão bonitinho, que me deixa encantado.É uma verdadeira fada,que enfeitiça com o olhar a todos quanto se aproxima-disse,lançando um olhar significativo para Aline.Todos gritaram:
-Aline!Aline!
A garota ficou sem saber o que fazer,olhando com curiosidade para Fernando, que permanecia com seu largo sorriso no rosto.
-É você mesma,minha fada encantadora.
Uma onda de gritos e assobios invadiu a casa.Aline levantou-se, corada e foi à frente receber seu presente.Fernando deu uma apertado abraço na garota,que ficou toda desconcertada.Quando a onda de gritos se encerrou,a garota “limpou” a garganta e iniciou sua descrição, sem rodeios:
-O meu amigo secreto é uma pessoa de sorriso muito mais encantador que o meu e de olhos azuis brilhantes primorosos que cativa a qualquer um!
-Fernando!Fernando!-todos gritaram.
O rapaz levantou-se e deu outro abraço em Aline.Todos começaram a gritar novamente e a bater palmas,e uns ainda dirigiam comentários maliciosos acerca dos dois abraçados lá na frente.Após algum tempo, os dois ainda eram o alvo da atenção de todos,enquanto Fernando “rasgava a seda” falando da garota.Richard levantou-se e “empurrou” os dois,alegando que a “fila precisava andar”.Todos deram risada e levaram na brincadeira,mas Aline percebeu que tratava-se de uma brincadeira com um toque de ciúmes.
-Vamos recomeçar!Agora é a minha vez!disse Rick, colocando-se à frente.
-A minha amiga secreta-iniciou-É uma garota muito linda,delicada e vaidosa-disse o garoto, fazendo um jeito engraçado de “ dondoca”.
-Karina!-todos gritaram às gargalhadas.Karina levantou-se radiante e abraçou o rapaz fortemente,que fingiu-se sufocado pela garota, arrancado gargalhadas por todos os lados.O rapaz deu um beijo no rosto da menina,que mostrou-se “derretida” com a demonstração de carinho do “amado”.
-O meu amigo secreto-iniciou a menina-É uma menina que eu adoro porque tem muita coisa em comum comigo.
-Carla!gritaram todos,referindo-se a uma garota loirinha,amiga de Karina,que tinha o mesmo jeito “esnobe” da garota.Era a única que tinha alguma coisa em comum com a irmã de Aline.
A brincadeira continuou agitada.Leandra recebeu o presente de Lucas, e tirou Patrícia,que tirou Johnny,que por fim tirou Rodrigo.
Durante a brincadeira,Fernando permaneceu o tempo todo ao lado de Aline, conversando e fazendo comentários animadamente,e por vezes dirigia abraços e beijinhos espontâneos no rosto da garota, que ficava corada.A menina percebeu que Rick não parava de olhar para os dois,sempre desconfiado,e por vezes até mesmo aparentando nervosismo.Além de Rick, outra pessoa não estava gostando nada da situação:Leandra.A garotinha olhava por diversas vezes, emburrada para a prima,prestes a chorar.Aline via que estava incomodando algumas pessoas, porém não fazia nada por desvencilhar-se de Fernando, pois o mesmo era um rapaz muito agradável.
Porém havia alguém que estava adorando a situação:Karina, que aproveitando o afastamento da irmã,não parava de dirigir “gracinhas” e comentários a Rick, que fingia prestar atenção, mas na verdade tinha todo seu olhar perscrutador voltado para o casal formado à sua frente.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Capítulo 35

Aline levantou-se cedo.Olhou pela janela e avistou o céu ainda escuro.Eram 6 da manhã.Às 7 já deveria estar pronta, a postos para ir à faculdade realizar a prova do vestibular.Johnny havia colocado-se à disposição para levá-la a São Paulo juntamente com Richard,Vivian e Rodrigo, que prestariam vestibular para Artes Cênicas, Fisioterapia e Educação Física, respectivamente.Aline decidira-se por bacharelado em Letras, já que este era um elemento bem presente em sua vida.
A garota banhou-se rapidamente e desceu à cozinha para preparar seu café da manhã.Quando adentrou à cozinha Rodrigo acabava de retirar do forno uma bandeja com pães de queijo.O café já estava pronto, e havia algumas frutas, suco natural e bolinhos sobre a mesa.Aline observou tudo, admirada.
-Nossa, foi você quem fez tudo isso?
-Sim- disse o garoto, sorrindo orgulhoso.
Aline sentou-se à mesa e pegou um pãozinho de queijo, levando-o à boca.
-Hum...Acho que ao invés de estudar Educação Física você deveria estudar Gastronomia!
Rodrigo sorriu, meneando a cabeça.
-Acho que não...Não cozinho tão bem assim.E o pão de queijo eu fiz com massa pronta que comprei no supermercado.
-Ah... Tá explicado!
Os dois sorriram.Rodrigo sentou-se à mesa e serviu-se também.Os dois principiaram a alimentar-se, conversando animadamente.
-Tô tão ansioso pra fazer essa prova que nem dormi direito.Sabe a que horas acordei?
-Que horas?
-5 da manhã!E sem nenhum esforço!
-Nossa...-disse Aline, sorrindo.
-É, tamanha a ansiedade.
-Eu to mais nervosa que ansiosa.
-Relaxa, você é inteligente, vai se sair bem.
-Espero...- falou a garota, levando um copo de suco à boca.
Karina apareceu na cozinha, esfregando os olhos, sonolenta.
-Já estão de pé?-perguntou, surpresa.
-Nós vamos fazer a prova hoje, esqueceu?-respondeu Rodrigo.
-Ah, mas o papai tá dormindo ainda.Deve ter esquecido a hora-disse a garota, abrindo a geladeira.
Aline e Rodrigo se entreolharam, confusos.
-Como assim ele deve ter esquecido a hora?-perguntou Aline.
-Ele não vai levar vocês à faculdade?
-Não... Quem vai nos levar é o Johnny.
-Aquele “gringo exibido”?
-Ele tem nome,Karina-disse Aline.
Karina fez uma cara de indiferença enquanto despejava leite dentro do copo.Depois olhou para Rodrigo e perguntou, confusa:
-Mas por que ele e não o papai vai levar vocês?
-Porque o Johnny vai levar o irmão dele,então se ofereceu para nos levar também.
-O Rick vai prestar vestibular em São Paulo?
Vai...-respondeu o rapaz.
Karina olhou para Aline, perplexa.Aline sabia exatamente o que a irmã estava pensando.Ela que pensou que com sua ida para São Paulo estaria com o caminho livre com Rick, percebera agora que estava “redondamente” enganada, pois Aline e Rick estariam agora mais próximos do que nunca.
Karina tomou o leite rapidamente e saiu da cozinha,alterada.Rodrigo observou a cena, confuso.
-O que deu nela?
-Acho que ela não gostou de saber que o Rick vai estudar em São Paulo.
-Por quê?
-Por que ele vai ficar longe dela agora.
-Ela gosta dele?
Aline assentiu.Rodrigo ficou pensativo.
-O Rick gosta de você né?
-É-respondeu a garota, imaginando se o sentimento de Rick por ela era tão transparente assim, pois até o primo percebera.
-E a Karina gosta dele...Que situação hein...
Aline balançou a cabeça, concordando.
-Você gosta do Rick?
-Só como amigo.
Rodrigo bebeu o último gole de café e olhou para o relógio de pulso.
-Quase 7 horas.Você já tá pronta?
-Já.
-Daqui a pouco o pessoal chega.
Aline levantou-se e pegou sua bolsa para conferir se estava tudo em ordem.Rodrigo subiu rapidamente ao quarto, e quando desceu ouviu a buzina do carro de Johnny.
-Eles chegaram!
Aline e Rodrigo saíram apressadamente.Quando chegaram ao carro, Aline viu que Vivian já estava no automóvel.Sentou-se ao lado da amiga, e Rodrigo sentou do outro lado, sendo que Vivian ficou no meio, entre os dois.Quando Johnny ligou o motor do carro, Aline deu uma rápida olhada para sua casa, e viu que Karina estava na janela lá em cima, no quarto, observando-os.
Faltando exatamente trinta minutos para as 9 horas, o grupo estacionava à frente da instituição, que já estava “fervendo” de gente.
-Volto para buscá-los às 12 horas.Tudo bem pra vocês?-perguntou Johnny, enquanto os 4 jovens desciam do carro.
-Tá ótimo, Johnny-respondeu Rick.
-Então até mais.Boa sorte pra vocês!
Johnny foi embora e os quatro adentraram à instituição.Cada qual iniciou sua procura pela sala em que ficariam, depois de combinarem de se encontrarem no refeitório após a prova.
Aline encontrou rapidamente a sala em que ficaria, pois era a 3ª, que ficava no início do corredor.A garota adentrou à sala, que já estava cheia, e sentou-se numa cadeira do canto, junto à parede.Logo após sentou uma garota loira na cadeira da frente.A menina virou-se para trás e deu um sorrisinho para Aline.
-Tá nervosa?- a garota perguntou.
-Um pouco-disse Aline, retribuindo o sorriso, enquanto admirava-se com a facilidade da garota em “puxar” assunto com alguém desconhecido.
-Eu também-falou a garota, voltando a dar seu sorrisinho e virando-se para frente.
Um homem adentrou à sala e cumprimentou os presentes.Deu algumas instruções aos vestibulandos e em seguida distribuiu as provas.Aline tirou da bolsa o lápis, a borracha e a caneta.Deu uma ligeira olhada nas questões e proposta de redação.O tema era: “Valores de pessoas que foram responsáveis por sua formação".A menina achou interessante.Iria escrever sobre seus pais e professores,inclusive os ensinadores da igreja.Voltou à primeira página e se pôs a ler cada questão,atenciosamente.
***
-E então, tava difícil a sua prova?
-Não.Até que tava fácil-respondeu Aline a Rick, enquanto ambos sentavam-se à mesa do refeitório, com suas bandejas contendo o almoço em mãos.
-A minha tava fácil também.Acho que passei, e espero passar também na próxima fase- comentou o rapaz, dando uma garfada na batata-frita dentro do prato.
-Próxima fase?
-É...Pra cursar Artes Cênicas tem que passar por duas fases.A primeira é a prova escrita, e a segunda é a prova prática.
-Entendi.Ainda bem que a minha é uma prova só e pronto.
-Sorte sua.Eu é que to preocupado com esse teste prático.
-Como é esse teste?
-Eu terei que representar uma cena, pra eles verem se tenho talento.
-Ah mas isso você tem de sobra.Você é talentoso,Rick.
-Obrigado -agradeceu o rapaz,sorrindo.
Aline deu uma olhada em volta do refeitório.
-A Vivian e o Rodrigo tão demorando, né?Será que não terminaram a prova?
-Quem sabe...
Minutos depois,Rodrigo apareceu, com uma bandeja em mãos.
-Até que enfim encontrei vocês!-disse, sentando-se.
-Demorou por que?A prova tava difícil?-indagou Rick.
-Não.É que quando saí, dei uma passada no banheiro, e depois fui comprar meu almoço.A fila tá enorme-disse o garoto, apontando para a fila gigantesca que se formava na cantina.
-E a Vivian, você não a viu?-perguntou Aline.
Rodrigo balançou a cabeça negativamente.
-De repente ainda não terminou de fazer a prova.O horário máximo para terminar é as 13 horas- esclareceu Richard.
-Então ela deve tá na sala ainda.
Instantes depois,Vivian apareceu com Fábio a tiracolo, ambos de mãos dadas.
-Olá!- cumprimentou a garota a todos, sorridente.
-Oi-disseram Rick e Aline, em uníssono, enquanto Rodrigo apenas olhou rapidamente e continuou comendo, em silêncio.
-Vim avisar que vou embora com o Fábio.
-Não vão almoçar antes?-perguntou Rick aos dois.
-Já almoçamos-esclareceu Fábio.
-Que rapidez.
-É...Agora precisamos ir, ótimo almoço pra vocês-disse Vivian, saindo em seguida com o namorado.
Aline deu uma olhadela para o primo, que mantinha no rosto uma expressão insatisfeita.Olhou para Rick e percebeu que este também havia prestado atenção na cena.
Minutos depois, Aline avistou Johnny ao longe, do outro lado do portão da instituição, adentrando atento, observando todos à volta.
-Rick, o Johnny chegou-disse a garota, apontando para onde o rapaz estava.
Rick olhou e logo principiou a acenar para o irmão, para que este visse onde estavam.Johnny tão logo os avistou, correu-lhes ao encontro.
-Demorei?-perguntou o rapaz, sentando-se.
-Um pouco-disse Rodrigo, olhando para o relógio-Já são 12:30.
-Desculpem, é que me atrasei.
-Tudo bem.Quer almoçar?-indagou o irmão do rapaz.
-Não, já almocei.
-Então acho que já podemos ir,né?-perguntou Rodrigo.
-Sim...-respondeu Johnny, olhando em volta da mesa-Mas cadê aquela amiga de vocês,Vivian?
-Ah ela já foi com o namorado dela.
-Então vamos-falou Johnny,levantando-se.
Os quatro jovens dirigiram-se ao carro.Aline sentou-se ao lado do primo,no banco de trás, observando pela janela do automóvel o grande prédio da instituição de ensino.Logo ao lado da faculdade havia um grande estabelecimento, semelhante a uma pensão, ou algo assim.Rodrigo esclareceu que se tratava da República de Estudantes que ele havia falado.Diferentemente do que a garota pensara, não se tratava de duas Repúblicas para cada gênero, e sim uma República com compartimentos separados para moças e rapazes.A garota sentiu-se feliz, e ao mesmo tempo nervosa.Se realmente passasse no vestibular, iria morar ali, não sozinha, porém longe de sua família.Nunca ficara longe dos pais mais que uma semana.Mas agora passaria 9 semestres inteiros longe, vendo-os só aos fins de semana.Será que se acostumaria a uma nova vida assim, “sozinha”?

sábado, 19 de dezembro de 2009

Capítulo 34

A semana passou rápido para Aline.Nos dias anteriores, a garota havia se empenhado em realizar sua inscrição e em se preparar para o vestibular, que já seria na próxima semana.
Era sábado, dia de bastante movimento na loja.Mas infelizmente nas últimas semanas o movimento não estava tão agitado assim, e as vendas iam de mal a pior.Não se admiraria se tão logo terminasse o ano,Luís decidisse fechar o estabelecimento, como ameaçava fazer.Ficaria triste caso tal acontecesse, pois seu chefe, apesar de seus defeitos, era uma pessoa bacana e muito esforçada, e não merecia aquele fracasso.
Quando chegou à livraria, Luís se encontrava sozinho no balcão.Henrique havia ido almoçar,e o homem estava só esperando o rapaz voltar para que fosse também almoçar.Tão logo adentrou à livraria,Aline cumprimentou o chefe, notando que o mesmo tinha uma expressão abatida estampada em seu rosto e um olhar distante.Não perguntou de imediato o que havia, com receio de estar sendo inconveniente.Mas após algum tempo observando que Luís continuava cabisbaixo, e que nem sequer mudava de posição, não se conteve.
-Você está bem?-indagou, aproximando-se.
Luís olhou para a garota, um pouco surpreso, mas voltando a ficar com o olhar vago, apenas respondeu:
-Não.
-Eu posso ajudá-lo em alguma coisa?-perguntou a garota, um pouco receosa.
Luís sorriu nervosamente.
-Acho que não,Aline.Você é muito novinha, não entenderia meus conflitos.Obrigado pelo interesse, mas você não pode me ajudar.Aliás, ninguém pode.
Aline encarou o chefe firmemente.
-Mas eu conheço alguém que pode.
Luís olhou para Aline, sério.
-Já sei o que vai dizer:Jesus, acertei?
Aline assentiu.Luís retirou os óculos e os colocou em cima do balcão.Passou as mãos pelo rosto, sinalizando preocupação.
-Nem Jesus, nem Deus, nem ninguém pode!-respondeu o homem, secamente.
-Claro que pode!-disse Aline, admirada com a incredulidade do homem- Ele tem a solução para o seu problema!Basta você entregar seu caminho a Ele,e Ele tudo fará por você!
Luís sorriu.
-É fácil dizer isso, o complexo é fazer.É difícil renunciar ao pecado e entregar nosso caminho a Ele.
Aline olhou para Luís, pensativa.O homem encarava-a firmemente.Estavam tão entretidos no assunto ,que nem puderam perceber o momento em que um cliente entrava na loja.
A garota se pôs a analisar as últimas palavras do chefe.Sentiu esperanças ao perceber o sentido daquelas palavras.Percebeu que Luís não era tão incrédulo assim, pois reconhecia que precisava renunciar ao pecado, por mais que achasse difícil.
-Tudo é possível àquele que crê.Se você quer mudança na sua vida, crer é o primeiro passo.O segundo é você se entregar-ponderou Aline.
-Mas esse é o passo mais difícil.
-Não é não.
-Pra mim é.E pra dizer a verdade-disse Luís, pensativo-Acho que não quero dar esse passo.Não quero viver aprisionado como vocês crentes vivem na igreja.Do jeito que vivo tenho liberdade pra fazer o que quero.
Aline balançou a cabeça negativamente.Seu chefe tinha uma opinião contrária à verdade.Se ele conhecesse Jesus, perceberia o que na realidade é a verdadeira liberdade.
-Aline... Não insista mais nesse assunto, por favor-disse Luís, dirigindo-se à porta da livraria.Olhou para a rua e virou-se para a garota.
-Não vou esperar o Henrique, vou logo almoçar-falou, saindo.
Aline novamente ficou frustrada.Por um momento até sentiu que Luís se quebrantaria, mas no fim o homem mostrou-se tão firme em seus falsos conceitos quanto antes.A garota encostou-se ao balcão, pensativa.
-Ele ainda não tá preparado-disse uma voz vinda de trás das estantes de livros.Aline olhou um pouco assustada, por não esperar que houvesse alguém ali.
-Se assustou?- Johnny perguntou, saindo de trás da estante.
-Um pouco-disse a garota, ainda surpresa.
-Por que será que sempre que apareço você leva um susto?
Aline sorriu.
-Não sei... De repente é o seu jeito misterioso de aparecer que me assusta.
-Deve ser.
-Mas que surpresa você por aqui.
-É, tava dando um passeio pelo centro e passei aí na frente, lembrando que o Rick disse que você trabalhava numa livraria, aí quando te vi parei.Mas quando entrei vi que estava tendo uma conversa séria com seu chefe, então passei de fininho.
Aline olhou para fora e viu o carro de Johnny estacionado.Ela e Luís deviam mesmo estar entretidos na conversa, pois nem sequer perceberam barulho ou movimento algum de carro chegando à frente da loja.
Johnny encarou Aline firmemente.
-Eu ouvi a conversa entre você e seu chefe desde saí de dentro do carro.Você se saiu bem nas suas afirmações, só que o homem está ainda com o coração endurecido.
Aline balançou a cabeça, concordando.
-É verdade, o Luís é uma pessoa muito difícil e não se convence facilmente das coisas.
-Ele não tá ainda com o coração preparado para aceitar a verdade.
-É justamente isso o que penso-concordou a garota, lembrando-se do pensamento que lhe viera na vez que entregara aquele folheto a Luís e ele lhe devolvera.
-Então dê tempo para que Deus trabalhe no coração dele-continuou Johnny-Acredito que suas palavras ainda surtirão efeito.
-Espero-disse Aline, percebendo que Johhny tinha um livro em mãos.
-Vou levá-lo-disse o rapaz, percebendo o olhar da garota.
Aline dirigiu-se ao caixa e registrou a venda.O rapaz deu um sorriso para a garota e disse:
-Continue assim,Aline.
Aline sorriu, balançando a cabeça afirmativamente.
-Tchau-disse o rapaz com um aceno de mão e saindo logo em seguida.
Aline saiu do caixa, e encostou-se ao balcão, pensativa.Tão logo Johnny saiu, Henrique chegou à loja.
-Tá pensando no Rick?
-Hã?-perguntou Aline, distraída-Ah... claro que não!-falou ao analisar as palavras do amigo.
-Pensei que tava.Tá com uma cara de apaixonada!
-Engraçadinho...
-Mas e aí, esse namoro sai ou não sai?
-Somos apenas amigos, Henrique.
-Mas ele bem que queria ser mais que amigo.
Aline não respondeu, apenas sorriu.
-Não vai dar uma chance pro guri?
-Acho que não...
-Ah seja boazinha, vai.Faça um cupido chato feliz!
Aline sorriu.Por mais que pensasse na hipótese de namorar com o amigo, não se convencia de que fosse uma boa idéia.A amizade deles era tão legal, mas o que aconteceria caso eles namorassem, o relacionamento não desse certo e eles terminassem?A amizade que era tão bacana no momento seria destruída.Além disso, pensava em sua irmã Karina, que a fizera prometer que não aceitaria namorar com Richard.
***
No dia seguinte Aline foi à Escola Dominical com a família.Atendendo ao pedido de Rick, todos os jovens faziam-se presentes para a realização do sorteio do amigo secreto.
Aline tinha Rodrigo sentado ao seu lado esquerdo, e Fernando ao seu lado direito.Ao lado de Fernando estava Johnny.Vivian estava logo atrás sentada com seu novo namorado, enquanto Patrícia e Lucas estavam logo ao lado do novo casal.Aline percebeu que Rodrigo vez ou outra olhava para trás,com olhar não muito satisfeito, para Vivian e Fábio.Aline não tivera muita coragem para dizer ao primo que sua “paquera” estava namorando, sendo assim ele acabou descobrindo por si mesmo.
-Tá ansiosa pra saber quem será seu amigo secreto?-indagou Fernando à garota.
-Um pouco, e você?
-Eu to muito.Adoro mistérios-disse o rapaz, sorrindo.
Aline percebeu que Fernando não tinha mais em seu rosto a expressão tensa e preocupada de antes.Concerteza deveria ser conseqüência da rápida recuperação de Diego, que já estava em casa.
-Como está seu irmão, Fernando?-indagou a garota ao rapaz.
-Ele tá bem.Já tá em casa, se recuperando.
-Fiquei sabendo.Que ótimo, né?
-É.Estou mais tranqüilo agora.Fiquei muito preocupado com o estado em que ele ficou.E aliás, fiquei bem preocupado também com minha mãe, que ficou muito abalada.
-Imagino.
-Agora só espero que o Diego seja mais responsável e não se meta mais em encrencas.
-Ele já arranjou problemas antes?
-Várias!Meu irmão gosta de “comprar briga”, sabe?E eu tenho muito medo por ele.Enquanto não se converter, acho que não se concerta.
Aline ficou analisando as palavras de Fernando, quando de repente alguém caiu com todo ímpeto em cima dela.
-Ai!
-Foi mal!disse Leandra, se recompondo-Oi Fernando-falou com um largo sorriso.
Aline ficou olhando incrédula para a prima.Aquilo tudo era vontade de estar perto de Fernando?Aline se afastou para que a prima sentasse entre ela e Fernando, e ficou a observar a expressão de encanto que Leandra tinha no rosto toda vez que via o rapaz.
Richard colocou-se à frente da classe e anunciou o início do sorteio.O garoto principiou a passar pelas fileiras com uma caixa na mão, onde haviam os nomes do sorteio.Aline pegou o pequeno papelzinho dobrado e o abriu sutilmente, olhando para os lados para certificar-se de que não havia ninguém observando.Leu o nome contido no papel e deu um sorriso.”Nada mal”-pensou.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Capítulo 33

Aline acordou chacoalhada por Leandra.
-Acorda prima!Visita pra você!
-Visita?- indagou Aline, abrindo os olhos.
-É...O seu amigo bonitão tá aí.
-Amigo bonitão?-perguntou a garota, sem entender.
-O Richard.Ele tá lá embaixo te esperando.
“Rick?”-pensou Aline, estranhando.Levantou-se, lavou o rosto, trocou de roupa e desceu à sala em poucos minutos.Rick estava sentado no sofá, com Karina ao lado,conversando.Aline aproximou-se receosa, temendo atrapalhar o bate-papo dos dois.Quando a viu se aproximar, Karina a olhou séria, e se calou.Rick se levantou para receber Aline .
-Bom dia!Acordei você?
Aline sorriu, dando a entender que sim.
-Desculpe!
-Não faz mal.Já era mesmo hora de acordar.
-Vim te trazer isto- disse o rapaz, entregando uns folhetos para Aline.
-O que é isso?-perguntou a garota, os examinando.
-São os folhetos que preparei para divulgar nosso evento em janeiro.
-Já?
-É... Quanto mais cedo, melhor.
-Que legal...
-Ah e vim te dar um aviso também.Não falte à Escola Dominical no próximo domingo.
-Por quê?
-Nós faremos o sorteio do amigo secreto.
-Hum...-murmurou Aline, balançando a cabeça.
-E a entrega de presentes será na casa do Lucas, depois da Cantata de Natal na igreja.
-Ah tá...
-E por falar em Natal, no Reveillon darei uma festa lá em casa.Você é a minha primeira convidada-disse o rapaz, sorrindo.
-Obrigada-murmurou Aline dando disfarçadamente uma olhadela para Karina, que mantia a expressão séria-E vai ter mais alguém da igreja lá?
-Sim.Vou convidar todos os jovens.
-Hum...
-Bem, só vim te dar esses avisos.Agora preciso ir.
-Mas já?-perguntou Karina, levantando-se e ficando na frente de Aline- Fica mais um pouco!
-Não posso... Tenho umas coisas pra fazer ainda hoje, e preciso ir.
-Que pena...-disse a garota com um sorrisinho.
-Bem, preciso ir.Tchauzinho-disse, acenando para as garotas.
Karina acompanhou o rapaz até o portão, enquanto Aline foi para a cozinha tomar seu café.Sentou-se à mesa e serviu-se, enquanto sua mãe lavava a louça.
-Bom dia filha.
-Bom dia.
-Impressão minha ou eu ouvi o Richard te convidando para uma festa na casa dele?
-É ele convidou- respondeu Aline, surpresa com a pergunta da mãe.
-Nós também faremos uma festa familiar aqui em casa-disse a mulher olhando para a filha.
-Eu já imaginava-disse Aline, pensativa- Mas eu posso me revezar entre lá e cá, não posso?
-Acho que sim.Afinal, já que você foi a primeira convidada, não deveria desfazer do convite, né?-disse Helena, lançando um olhar significativo para Aline.
Aline baixou o olhar, sem jeito.Logo após Karina adentrou à cozinha, sentando-se também à mesa.
-Por falar em festas, preciso ligar pra sua tia Betty pra acertar os detalhes da ceia de Natal e da festa de Reveillon-disse Helena, secando a mão no avental e dirigindo-se à sala.
Aline levou um pedaço de bolo à boca, observando que Karina a olhava disfarçadamente vez ou outra, enquanto servia-se.A garota colocou o café na xícara e passou a olhar para Aline fixamente.
-Que gentileza do Rick vir te chamar pra ser a primeira convidada da festa dele, né?
Aline não respondeu, levou o copo de suco à boca e fez de conta que não ouviu o comentário da irmã, que já denotava uma “alfinetada”.
-Inclusive, ele te deixa a par de tudo antes de todos, veio até trazer os folhetos pra você, sendo que ele só vai entregar para os jovens no domingo.Acho que ele deveria te nomear vice na liderança, né?
Aline respirou fundo.Não queria discutir com a irmã, mas se continuasse ouvindo seus comentários irônicos, não sabia se continuaria quieta.Para seu alívio, Rodrigo chegou, quebrando o clima tenso que reinava no ambiente.
-Bom dia!
-Isso são horas de acordar seu Rodrigo?-perguntou Aline ao primo.
-Eu não acordei agora.Tava fazendo uma caminhada no bosque.
-Sem se alimentar?-perguntou Karina.
-Não...Eu comi antes de sair, é que agora to com fome de novo-disse, sorrindo.
Leandra chegou à cozinha, correndo, e reuniu-se também a eles na mesa.
-Seu amigo bonitão já foi embora?-indagou à Aline.
-Já Le...-respondeu a garota, lançando um olhar repreensivo para a prima.
-Tão rápido assim?Vocês mal conversaram...
-A gente conversou-disse Aline, baixando o olhar.
-É, só que tinha alguém atrapalhando, né?-disse Leandra lançando um olhar ferino para Karina, que assumiu uma expressão extremamente irritada.
Aline levantou-se da mesa, para não piorar a situação e pra não ter que continuar ouvindo os comentários inconvenientes da prima, e nem correr o risco de ouvir mais alfinetadas da irmã.Dirigiu-se a seu quarto, onde ficou até dar a hora do almoço.
***
Depois do almoço, Aline dirigiu-se à livraria, levando em sua bolsa os folhetos que Rick lhe entregara de manhã.Entregaria um para Henrique e outro para Luís, e quem sabe para algum cliente que entrasse na loja.
Quando chegou, Henrique estava no caixa, atendendo a um freguês, e dessa vez Luís se fazia presente no estabelecimento.Tão logo a garota entrou, o chefe pediu-lhe que fosse organizar o estoque, o que Aline cumpriu rapidamente.Ao voltar, Luís estava parado junto ao balcão, conversando com Henrique.Aline achou que era uma boa oportunidade para entregar-lhes os folhetos.Pegou dois em sua bolsa e os entregou a cada um.Henrique, depois de lê-lo, disse que não prometeria ir, mas que pensaria no assunto, enquanto Luís continuou observando o folheto, sério.
-Valeu a intenção Aline- disse o homem lançando um olhar grave para a garota- Mas eu não vou.
-Por quê?
-Eu não gosto desse tipo de coisa.
Aline permaneceu quieta por instantes, sendo observada pelos dois a sua frente, mas percebeu que precisava falar algo diante daquela afirmação.
-Bem,Luís, seria apenas uma visita, sem compromisso.
-Conheço bem essa história, Aline.Minha esposa é crente, me convida pra ir à igreja, também sem compromisso, mas quando chego lá aquele povo só falta me obrigar a aceitar a religião deles.Eu não gosto disso.
-Mas não tentaremos obrigá-lo a nada, Luís.Aliás, não pregamos religião, mas pregamos Jesus Cristo.Você aceita se você quiser, se você sentir vontade de recebê-lo como seu Salvador.
Luís sorriu.
-Vocês crentes sempre com a mesma história.Eu fui várias vezes à igreja e nunca senti absolutamente nada- disse o homem, meneando a cabeça.
Aline se calou.Mas por instantes, lembrou-se de uma palavra que havia escutado certa vez, de que havia corações que ainda não tinham “terreno” preparado para receber com alegria a Palavra.Provavelmente Luís ainda possuía o coração despreparado.
-Me desculpe Aline, mas eu não tenho interesse nisso- disse o homem, entregando o folheto à Aline, que pegou, frustrada.
-Vou almoçar agora-disse o homem, saindo em seguida.
Aline ficou parada,observada por Henrique.
-Valeu a intenção, Aline-disse o rapaz.
Aline balançou a cabeça, concordando com o amigo.
-É, valeu a intenção...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Capítulo 32

Karina quis desconversar.Mas Aline insistiu no assunto.
-Que mal tem em você me dizer quem foi, Karina?
A garota não respondia.Sentou-se na cama, pegou um livro e fingiu ler.
-Karina, você tá me escondendo alguma coisa?
-Claro que não... E por que eu esconderia?
-Eu não sei.Mas você tá estranha, fica desconversando e não quer responder à minha pergunta.
-Eu não sou obrigada a responder.
-Eu sei que não, mas agindo assim você só me faz pensar que está escondendo algo- disse Aline, impaciente.Karina lançou um olhar raivoso para a irmã.
-Então você quer mesmo saber quem me deu aquele envelope?- disparou Karina impetuosamente, levantando-se da cama- Ninguém me deu aquele envelope.EU peguei!Roubei do Rick porque descobri que ele ia mandar pra você, e como eu não queria que isso acontecesse eu roubei o envelope!
Dizendo isso, Karina respirou fundo, como se estivesse aliviada por finalmente haver contado toda a verdade.
-Tá satisfeita em saber de tudo agora?-disse, saindo em seguida.
Aline ficou perplexa com a confissão da irmã.Como Karina teve coragem de fazer isso?Agora entendia porque certa vez ouviu Camila lhe dizendo que estava jogando sujo.Então era isso!
O telefone sem fio que Karina havia deixado na cama tocou.Aline atendeu.
-Aline?
-Oi Vivian.
-Oi amiga, como vai?
-Bem, e você?
-Ótima.Mas você não parece estar tão bem.Sua voz tá com um tom nervoso.Aconteceu alguma coisa?
-Ai Vivian, acabei de descobrir uma coisa.Já te contei sobre um certo envelope amarelo que vi com a Karina certa vez?
-Acho que sim...
-Pois é, descobri que o tal envelope era pra ser pra mim na verdade.Só que a Karina roubou do Rick porque não queria que ele me enviasse.
-Sério? E como foi que você descobriu?
-Ela me confessou agora a pouco.
-Nossa Aline, que maldosa é essa tua irmã hein.
Aline não respondeu.Ficou um pouco impactada com o comentário de Vivian insinuando que sua irmã era má.
-Agora entendo porque você ouviu a Camila acusando a Karina de estar jogando sujo.
-É...Foi o que pensei também.
-Que chato...
-É...
-Mas e aí, você conversou com o Rick?
-Sim.
-E então?
-Ah Vivi, eu não sei... Ele me pediu uma chance, mas sinceramente não sei o que fazer.
-O que te impede de dar uma chance a ele,Aline?
-Bem, primeiro, o fato de sermos amigos.Não consigo vê-lo de outra maneira.
-Segundo?
-A Karina me fez prometer que não vou namorar com ele?
-Quê?
-Ela me fez prometer que não vou namorar com o Rick...
-Aline, desculpa, mas se eu tivesse aí agora te dava uns tapas.Que história é essa?
-Ela gosta do Rick, Vivi.
-Eu sei disso, aliás fui eu que te contei essa história.Mas isso da sua irmã fazer essa exigência já é demais.Quem ela pensa que é?
Aline não respondeu.Vivian continuou:
-Não deixa ela te manipular não, Aline.Ai que absurdo!
Aline continuou calada.
-Eu sabia que essa tua irmã ia te trazer problemas qualquer dia.Aff... Mas, mudando de assunto, senão esqueço o motivo pelo qual liguei pra você.E aí, vai prestar mesmo o vestibular?
-To querendo, mas não sei ainda onde.
-Eu vou prestar lá naquela faculdade que visitamos, o que acha?Vou seguir o exemplo do Rick.
-Mesmo?Por quê?
-Ah porque eu gostei da idéia dele, e o mais importante, gostei da faculdade também.Vamos pra lá também,Aline, daí a gente pode morar juntas na República.
-Sei não...
-Tá eu sei porque você tá indecisa.É por causa dos seus pais,né?
-Exatamente.Já sei até qual será a reação deles quando eu expor minha idéia.
-Imagino.Mas tenta, quem sabe eles não deixam?
-É...vou tentar.
-Isso...
-Mas me conta Vivian,hoje eu vi você com o Fábio.
-Mesmo?
-Mesmo...
-Ele me convidou pra dar um passeio com ele.E eu aceitei.
-Hum...
-Ele é tão gentil!
-Sei...É dele que você tá a fim não é?
Vivian deu risada.
-Ai Aline, não tem mais como esconder né?É dele que eu to a fim sim.
-Vivi, mas ele nem é crente.
-Eu sei, eu sei... Mas ele é um cara legal.Não é crente, mas pode vir a ser.
-Vivi, toma cuidado.Não se envolve com ele...
-Tarde demais.
-Como assim?
-To namorando com o Fábio, Aline.
-O quê?
-Isso mesmo.Ele me pediu em namoro, e eu aceitei.Afinal ele é um cara super gentil, me respeita e gosta de mim.Não vejo nada de mal em namorá-lo.
Aline ficou quieta.Queria continuar alertando a amiga, mas não sabia se era o momento, afinal a amiga estava tão feliz, que tinha medo de aborrecê-la.
-Você é quem sabe...
-Exatamente.Bem, preciso desligar agora,tenho que ligar pro Fábio.Só liguei pra falar sobre a faculdade.
-Tudo bem.
-Tchau amiga, té mais.
-Até.
Aline desligou o telefone, preocupada.Sua amiga estava entrando em terreno desconhecido e provavelmente arriscado.Mas Vivian era uma pessoa de opinião própria, e se ela achava que estava fazendo o certo, só poderia torcer para que ela não se magoasse.
Aline desceu à cozinha, e quando sentiu o cheiro da comida só então percebeu que estava faminta.A família já estava toda reunida.Sentou-se à mesa, ao lado de seu pai e serviu-se.
-Boa noite, filha-cumprimentou Carlos tão logo a garota sentou-se.
-Boa noite pai.
-Trabalhou muito hoje?
-Não, ultimamente não tenho trabalhado muito-respondeu a garota, dando uma rápida olhada para Karina, que se encontrava à sua frente, com o olhar baixo e expressão aborrecida.
-Já decidiu se vai prestar o vestibular filha?
-To pensando,pai.
-Decida-se logo, já estamos em dezembro.
-Na verdade, pai-disse Aline, receosa, porém percebendo a oportunidade de falar com o pai sobre sua idéia de estudar em São Paulo- eu tava pensando em prestar o vestibular naquela faculdade que fui visitar outro dia.
-Aquela em São Paulo, no bairro da Mooca?
-É...
Carlos colocou o garfo no prato e ficou a olhar sério para a filha.Aline percebeu que ele não gostara muito de sua idéia.
-Você sabe quanto tempo leva pra chegar daqui até lá?
-Sei...Umas duas horas.
-E você quer mesmo levar duas horas para ir e duas horas para voltar da faculdade todos os dias?
-Bem...Eu poderia ficar morando por lá.
Todos à mesa olharam para Aline, depois para Carlos, que mantia em seu rosto uma expressão séria.
-Morar sozinha?
-Não... Numa República.
-Numa República...- repetiu o homem, pensativo-Não sei Aline.Por que não tenta uma faculdade daqui mesmo?
-Mas todas elas já encerraram as inscrições.
Carlos ficou quieto.Voltou a comer, em silêncio.
-Eu também vou prestar vestibular nessa faculdade-disse Rodrigo, introduzindo-se na conversa.
Carlos olhou para o sobrinho.
-Mas você já mora por lá...
-Sim, mas o senhor sabe, São Paulo é enorme, e o bairro em que moro é bem longe da Mooca.Vou morar numa República.
Carlos olhou surpreso para o sobrinho.Depois voltou a ficar pensativo.Aline torceu para que a afirmação de Rodrigo trouxesse segurança para seu pai, e assim ele a deixasse morar lá, já que o primo iria estar por perto.
-A República que vou é só para rapazes, não entra moças, e a que Aline vai, caso o senhor permita, é só para moças, e igualmente, não entram rapazes-continuou Rodrigo.
Carlos olhou para Aline, pensativo.Depois olhou para Helena, que tinha uma expressão leve no rosto.Aline olhou para os dois, esperançosa.
-Sendo assim, pode ir-disse Carlos, finalmente.
-Obrigada pai!Obrigada!-disse Aline, levantando-se e abraçando o pai.
-Mas não pense que estará livre de nós, hein!Ainda seremos seus pais e você continuará a nos dar satisfações-preveniu Carlos.
A garota não podia conter-se de alegria.Iria para a faculdade no próximo ano, e se tudo desse certo, seus amigos também iriam.A menina olhou para todos em volta da mesa.Sua mãe tinha uma expressão leve, mas preocupada.Seu pai igualmente.Olhou para Karina.Esta mantinha um ar de riso estampado no rosto.Será que ficara feliz por saber que ela iria pra longe?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Capítulo 31

Um cliente chegou na loja e Henrique levantou-se para atendê-lo.Aline permaneceu sentada, pensativa.Não sabia por que, mas o que Henrique falara sobre o envelope a deixara “encucada”.Muita coincidência os envelopes que recebera e o que vira com Karina serem de estilo tão parecido, e inclusive, a poesia ser tão semelhante,ou igual a que Rick lhe enviaria.
-Aline, chega aqui- chamou Henrique, enquanto atendia um cliente no caixa.
Aline levantou-se e foi ao caixa.
-Será que dá pra você ir ali trocar esse dinheiro pra mim?Vê se consegue duas de 50-disse o rapaz, entregando uma nota de 100 reais na mão da garota.
-Claro - respondeu Aline, pegando o dinheiro e saindo da loja - Volto num minuto.
A garota dirigiu-se a um pequeno comércio que havia no fim da esquina, onde costumava trocar o dinheiro quando precisava. Entrou no estabelecimento e negociou com a balconista, que lhe entregou duas notas de 50.Aline agradeceu e saiu apressada.Passando na frente de uma lanchonete, avistou uma figura conhecida sentada à mesa perto da portaria, com uma mulher.Era seu chefe, com a mulher que por duas vezes aparecera na loja procurando por ele.Os dois estavam sentados frente a frente, conversando.A garota parou e ficou olhando disfarçadamente a cena.Luís aproximou-se da mulher e beijou-lhe.Aline achou feio estar ali vigiando seu chefe e saiu correndo para a loja.Chegou e entregou o dinheiro a Henrique, que agradeceu.A garota sentou-se novamente na cadeira e ficou a observar enquanto Henrique concluía o atendimento ao cliente.Quando o homem saiu, Henrique voltou à posição de antes, sentando-se novamente ao lado de Aline na cadeira.
-Henrique, você sabe se o Luís é casado?
-Sim.Ele é.
-Acho que vi a esposa dele agora a pouco na lanchonete com ele.
Henrique fez uma cara de quem achara estranha aquela afirmação.
-Tem certeza que era ela?
-Bem, não sei... Eu não a conheço.Mas acho que era ela.
-Ela já voltou de viagem?
-Não sei... Ela tava viajando?
-Tava.Faz umas duas semanas que viajou.Só voltaria no fim do mês.
-Então ela deve ter voltado.
-Como é a mulher que você viu?
-É aquela que vinha de vez em quando aqui na loja procurar por ele, uma mulher bem bonita.
-Ah não...Aquela não é a mulher dele não.Eu não conheço aquela.A mulher do Luís é outra.
Aline ficou pensativa.Se aquela não era a esposa dele, por que ele estava a beijando então?Estava traindo a esposa?A garota sentiu-se mal por ter presenciado aquela cena.Sem querer descobrira o “deslize” moral de seu chefe, que lhe parecera sempre tão íntegro.Mas o que podia fazer, não fora sua culpa haver passado ocasionalmente pelo local e ter presenciado tal cena.
Luís chegou na loja, apressado, como sempre.Já virara hábito ultrapassar do horário de almoço.Agora Aline já entendia o por quê desse constante atraso.
-O que estão fazendo sentados aí?- perguntou o homem, encarando Henrique e Aline.
-É que não tem muito o que fazer...- explicou Henrique.
Luís balançou a cabeça, pensativo.
-Essa livraria tá indo de mal a pior...- reclamou, dirigindo-se ao balcão- Se continuar assim, vou ter que fechá-la.
Aline e Henrique entreolharam-se, preocupados.Seria lamentável se tal coisa acontecesse.A garota já vira situação semelhante acontecer com seu pai, e não desejava que isso sucedesse a ninguém, muito menos a seu chefe.
Mais tarde, no horário de saída, Aline recebeu uma companhia inesperada:Rick.O garoto estava ali, na rua da frente, esperando a amiga sair.Quando a garota saiu da loja, avistou o rapaz, acenando pra ela.
-Oi- disse o garoto,depois de atravessar a rua e correr em direção à amiga.
-Oi Rick-respondeu Aline, imaginando se o rapaz estaria vindo lhe cobrar uma resposta sobre o assunto do dia anterior.
-Tava passando por aqui e resolvi esperar você sair.
-Que bom...
Os dois iniciaram a caminhar, calados.Aline quebrou o silêncio.
-Então, tava fazendo o que por aqui?
-Vim conversar com o Douglas.Você sabe que o escritório dele fica aqui perto, né?
-Sei...
-Estávamos fazendo projetos para o próximo ano.Apesar de no próximo ano eu já estar com a minha agenda cheia.
-Por causa da faculdade, né?
-É...
-Vai mesmo fazer em São Paulo?
-Sim, já decidi, mas primeiro preciso passar no vestibular.
-E quando será?
-Daqui a duas semanas.
-Hum...
-Por que você não faz também?É uma faculdade muito boa.
-Não sei... Acho que meus pais não gostariam se eu fosse estudar em outra cidade.
-Conversa com eles.Quem sabe não permitem?
Aline ficou pensativa.Poderia tentar entrar em um acordo com os pais, mas não tinha tanta certeza se ambos aceitariam a idéia.Já imaginava o que eles lhes diriam quando soubessem de sua pretensão.
-Mudando de assunto... Você e o Douglas fizeram muitos projetos para o ano que vem?
-Sim... Vários.Começando por um em janeiro.
-Mesmo?Qual?
-Nós faremos um evento evangelístico para atrair jovens e pessoas não-crentes.
-Que legal, Rick.Sabe que eu havia pensado em falar com o Douglas sobre isso?Os jovens estão muito parados.
-É, também acho.Por isso mesmo dei algumas idéias.Ano que vem estaremos a todo vapor, mesmo com a minha ausência durante a semana.Mas como os eventos serão realizados sempre aos fins de semana, estarei disponível.
Os dois amigos continuaram andando,calados.Em determinado instante, quando passavam em uma avenida bem movimentada do centro da cidade, Rick, olhando para o lado, disse, apontando o dedo:
-Ei, aquela não é a Vivian?
Aline olhou.Passava muitos carros na hora, e a garota teve dificuldade de distinguir se era mesmo a amiga.Mas realmente era Vivian, e estava entrando no carro de Fábio, o rapaz que haviam conhecido na festa de Elen.
-É ela mesma-disse Aline, olhando surpresa para os dois dentro do carro.
-Ela tá namorando com aquele cara?
-Não sei...Ela não me contou nada.
Aline ficou pensativa.Será que era Fábio o motivo da amiga haver esquecido Richard tão rápido?Provavelmente sim, pois no dia da festa percebera que a amiga havia ficado encantada com o rapaz.
Richard e Aline continuaram caminhando, até chegarem a casa desta.A garota ficou imaginando se Rick iria tocar no assunto do dia anterior, mas ele nada disse a respeito.Os dois despediram-se e Aline entrou em casa.Dirigiu-se à cozinha, onde sua mãe se encontrava preparando o jantar.
-Oi mãe!
-Oi filha...- respondeu Helena, dando uma rápida olhada para Aline e em seguida voltando o olhar à panela.
-Cadê todo mundo?
-Karina está no quarto, Leandra e Rodrigo foram ao supermercado pra mim e seu pai ainda não chegou.
-Hum... Então vou subir,tomar um banho e depois desço para o jantar- disse a garota, saindo da cozinha.Subiu ao quarto e encontrou Karina com o telefone sem fio em mãos, conversando animadamente com alguém.Continuou conversando por alguns minutos, depois desligou o aparelho e ficou ali parada,olhando fixamente para Aline.
-Tava falando com quem?-perguntou Aline à irmã, enquanto abria o guarda-roupa.
-Com a Elen.
-É?-disse Aline,dando uma rápida olhada para Karina- E como ela está?-perguntou, indiferente.
-Está bem, mas só um pouco chateada pelo que aconteceu na festa dela.
-Tipo o quê?
-Aquele caso do Diego, por exemplo.
-Hum...
-Mudando de assunto, Aline-disse Karina, lançado um olhar inquiridor para a irmã- Vi você e o Rick aí na porta de casa.
Aline olhou surpresa para Karina.
-Viu?
Karina assentiu.
-Eu tava saindo do trabalho, daí ele tava passando lá por perto e me esperou.
-E então decidiu vir até aqui trazer a amada em casa-disse Karina, em tom irônico.
Aline não respondeu.Apenas ficou olhando para a irmã, aborrecida com o comentário.
-Tem certeza que não há nada entre vocês dois?
-Absoluta.
Karina olhou Aline com olhar incrédulo.
-O Rick é meu amigo, só porque você gosta dele não pode exigir que eu me afaste dele completamente.
-Eu não exigi isso.
-Mas bem que queria né?
Aline abriu sua gaveta, e vendo os envelopes que Rick lhe enviara, lembrou do envelope amarelo que vira certa vez com a irmã.Olhou para Karina, que permanecia parada, observando-a, e perguntou:
-Karina, lembra daquele envelope amarelo que você recebeu certo dia, e que eu peguei pra ler e você não gostou?
-Lembro- disse Karina, olhando um pouco desconcertada para a irmã.
-Quem foi que te deu?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Capítulo 30

Aline achegou-se à irmã, preocupada.Karina não parecia estar bem.Sentou-se à beira da cama, esperando pela pronunciação da garota.
-Você gosta do Rick?- perguntou Karina, sem olhar para Aline, que inclusive, surpreendeu-se com a pergunta.
-Não... Quero dizer, sim, mas como amigo!
Karina calou-se por instantes, olhando para baixo.Aline fitou a irmã.Ela estava muito estranha.
-Mas ele gosta de você, né?
-Não sei...-Aline respondeu, hesitante.
Karina olhou para a irmã, incrédula.
-É lógico que você sabe!-disparou Karina, nervosa.
Aline ficou olhando para a irmã, sem saber o que dizer.Karina estava parecendo uma criancinha mimada, de cabeça baixa, com expressão aborrecida, limpando as lágrimas.
-Ele pediu pra namorar com você?
Aline não sabia se respondia que sim ou que não; Rick praticamente havia pedido sim,porém indiretamente.Será que deveria dizer a verdade?Decidiu dizer que não, afinal, não aceitaria a proposta de Rick e o caso ficaria por isso mesmo.
-Não Karina, ele não pediu pra namorar comigo.
-E se ele pedir, você vai aceitar?
Aline balançou a cabeça negativamente.
-Promete?
Aline surpreendeu-se com a exigência ousada da irmã.Mas prometeu, hesitante.
Realmente Karina gostava de Rick, como Vivian havia dito, mas então por que a garota havia ficado com Diego?
-Karina...- disse Aline-Tá na cara que você gosta do Rick.Mas se você gosta dele, por que  ficou com o Diego?
-Foi coisa de momento.Não foi pra valer...Eu não gosto do Diego.
-Então não devia ter ficado com ele!Você fez ele pensar que também estava a fim.
Karina não respondeu.Aline ficou analisando o quanto sua irmã era impulsiva.Com sua atitude, havia dado oportunidade para Diego, que era bem possessivo, achar que tinha algum direito sobre ela.Provavelmente este ficaria “no pé” dela o tempo todo.
-Bem- disse Aline, levantando-se- Então você já sabe que eu não gosto do Rick, sendo assim o caminho está livre pra você.
Karina ficou olhando séria para a irmã.Aline saiu do quarto, imaginando o que deveria estar passando pela cabeça de Karina.Pela primeira vez na vida, estava "ganhando" da irmã em algo.Não que estivesse competindo, mas o caso era  que já estava acostumada a “perder” em tudo, só que dessa vez estava ganhando.Rick gostava dela, e não de Karina.E se Karina realmente gostava do Rick, teria que lutar para conquistá-lo.
Aline desceu à sala, onde sua prima encontrava-se sozinha, assistindo desenho animado.
-Assiste comigo,Aline- pediu Leandra, ao ver a prima aproximar-se.
Aline sentou-se ao lado da garota, no sofá, e ficou assistindo. “Que chatice”.
-Você tá namorando com o Rick?-perguntou a garota à Aline, sem tirar os olhos do desenho animado.
-Não...Somos apenas amigos.
-Mas ele gosta de você, né?Só que você gosta daquele garoto que foi embora...-disse Leandra, olhando para Aline, sorrindo.
Aline surpreendeu-se com a capacidade de observação da prima.Nunca havia comentado nada disso com ela, e até esforçara-se por disfarçar seu sentimento, só que a prima acabou por "pegar no ar" o clima que estava rolando.
-Cadê o Rodrigo?-perguntou Aline à prima, tentando mudar de assunto.
-Tá lá na varanda.
-Humm... Vou lá falar com ele um pouquinho, já volto tá?- disse Aline, procurando ocasião para “sumir”.
A garota foi até a varanda, onde seu primo se encontrava de pé,observando distraidamente o movimento da rua.
-Oi!-cumprimentou a garota.
Rodrigo nem se mexeu.
-Oi!- repetiu Aline, sacudindo o primo.
-Ah, oi!- respondeu o garoto, despertando.
-Tá apaixonado é?Parece que tá no mundo da lua...- gracejou a garota.
Rodrigo deu um sorrisinho, sem jeito.Aline percebeu que havia algo escondido naquele sorriso.
-Tá pensando em alguém?
-Mais ou menos...
-Posso saber em quem?
Rodrigo lançou um olhar desconfiado para a prima.
-Pode falar Rodrigo.Confia em mim.
Rodrigo hesitou, mas finalmente falou:
-Sabe aquela sua amiga?
Aline pensou um pouco. “Vivian!”
-A Vivian?-perguntou.
-É...
Aline sorriu.
-Quer dizer que você ficou a fim dela?
Rodrigo assentiu, timidamente.
-Que legal.A Vivi é uma ótima pessoa.
-Só que ela não me deu a mínima...
-Ah, é porque ela ainda não te conhece direito.
-Será que é isso?
-É sim... Quando ela te conhecer melhor vai se interessar também, você vai ver... Eu vou te ajudar.
-Mas nada de falar pra ela que eu to a fim hein!
-Pode deixar-disse Aline, sorrindo.O Rodrigo era um ótimo garoto, e poderia ser uma ótima opção para Vivian.Só restava decobrir se suas desconfianças sobre a amiga estavam certas, será que realmente ela tava gostando de alguém?
***
No dia seguinte, Aline dirigiu-se à livraria, apressada.Havia se atrasado uns poucos minutos, porém já seria o suficiente para Luís ralhar com ela.Chegou à loja, correndo.Henrique estava sozinho, como quase sempre acontecia quando a garota chegava, pois este era o horário de almoço do chefe.
-Oi Henrique!
-Oi- respondeu o rapaz, sentado folgadamente em uma cadeira.
-Que folga hein... Não tem trabalho pra fazer não?
-O pior que não... Ultimamente não temos tido muita coisa pra fazer por aqui.
-Tem certeza que não tem mesmo nada pra fazer?-disse Aline, observando à sua volta.
-Absoluta.
-Se é assim...- disse a garota, pegando uma cadeira e sentando-se ao lado do colega.
Ficaram calados por alguns instantes, até que Aline lembrou-se da conversa com Rick no dia anterior sobre a autoria das poesias que recebia.Levantou-se e deu um tapa no braço de Henrique.
-Ai!- reclamou o garoto- Por que me bateu?
-Eu já descobri tudo,tá seu fingido?
Henrique ficou com expressão confusa, sem entender o que a menina estava dizendo.
-Não lembro de ter aprontado nada com você Aline.
-Então vê se isso refresca sua mente- disse a garota, retirando um dos envelopes de seu admirador da bolsa e colocando-o à frente de Henrique. O garoto olhou, fingindo não reconhecer.
-Olha que legal... –disse pegando o envelope- Quem te deu?
-O Rick, com a sua ajuda.
Henrique assumiu uma expressão surpresa.Depois começou a dar risada.
-Ah então você já descobriu?
-Sim, senhor Henrique!Descobri que era você quem escrevia as poesias...
Henrique continuou sorrindo.
-Como foi que descobriu?
-O Rick me falou, depois que eu disse que já sabia que era ele que vinha me enviando aqueles envelopes.
-Hum...-murmurou Henrique, balançando a cabeça- Gostou dos poemas?
-Sim... São muito bonitos.Você tem talento hein...
-Obrigado... Modéstia parte... Sim, eu tenho talento.E de qual você mais gostou?
-Aquele que fala “Razão do meu querer, meu amor por ti percorre o espaço...”
-Mesmo? O que eu mais gostei foi aquele dos sonhos roubados. “Rouba-me os sonhos...”-disse Henrique, fazendo uma cara de quem estava tentando se lembrar de algo- Ah esqueci o resto...
-Rouba-me os sonhos?-perguntou Aline, também esforçando-se por lembrar- Não lembro desse não.
-Aquele do... Ah não, espera.O Rick não enviou esse não.Ele perdeu esse, daí eu tive que escrever outro.
-É?
-Sim... Perdeu com o envelope amarelo e tudo.
-Era num envelope amarelo?
-Era...
Aline lembrou-se rapidamente do envelope de Karina.O envelope era do mesmo estilo dos que recebera e, gozado, até mesmo o estilo da escrita colada com recortes era o mesmo.Sem falar que lembrava-se vagamente de que a poesia falava de sonhos roubados...Será que aquele era o envelope que Rick perdera?