segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Capítulo 22

Aline e Vivian adentraram à casa, ressabiadas.Parecia mais que introduziam-se no território inimigo do que numa festa.Karina entrara na frente, com seu costumeiro ar superior.Tão logo adentrou ao ambiente, avistou Elen com Camila e outras amigas, conversando, e correu-lhes ao encontro.Aline e Vivian ficaram de longe, já sentindo-se deslocadas.
-Vocês vieram!- exclamou Elen, quando as avistou.
-Não... Imagina.Você não tá vendo?- cochichou Vivian à Aline, fazendo careta, fingindo que falava com Elen.
Elen foi ao encontro das garotas, que entreolharam-se, preocupadas.
-Sejam bem-vindas- falou a aniversariante, com um sorrisinho forçado.
-Obrigada!- respondeu Vivian, também dando um sorrisinho forçado.
-Meus parabéns Elen- falou Aline, tentando “quebrar o gelo”.
-Ai, obrigada!Espero que sintam-se em casa...- falou Elen, saindo em seguida.
-Ninguém merece essa "fulana"- disse Vivian a Aline, enquanto Elen se retirava.
Aline olhou para a amiga.Concordava com ela, mas preferiu ficar calada.
As garotas procuraram um local em que pudessem "estacionar” sem serem incomodadas.Encontraram um espaço vazio em um sofá, num cantinho da sala, onde provavelmente seria um lugar tranquilo para quem não queria ser incomodado.Ficaram conversando, quietas no canto, sem introduzir-se no ritmo badalado da festa.
Estava cedo ainda, mas muitos convidados já haviam chegado e a festa já rolava movimentada, com música alta no último volume e com muita gente dançando e bebendo animadamente no meio da sala.Os únicos que se encontravam parados no ambiente eram Aline e Vivian, e Diego e Karina, que trocavam idéias, do outro lado da sala.Depois de um certo tempo, Vivian mostrou-se incomodada com o ambiente.
-Não to me sentindo bem aqui- falou a Aline, esforçando-se por falar alto em meio ao barulho do som ensurdecedor.
-Nem eu...- disse Aline, também em voz alta, fixando a vista nos indivíduos "suspeitos" que subiam e desciam a escada que levava aos quartos da casa.
-Esse ambiente não é pra nós, Aline.Vamo embora- ponderou Vivian, olhando assustada para os lados.
As duas iam levantar-se, quando aproximou-se um rapaz, aparentemente ébrio, cambaleando e caindo por cima do sofá onde as meninas estavam.
-Sai daqui!- gritava Vivian, enquanto o rapaz “desabava” no sofá, pronunciando palavras emaranhadas e sem sentido.Aline e Vivian empurravam-no e empenhavam-se por afastá-lo de si, com dificuldade, pois o rapaz, além de pesado, não parecia a fim de colaborar.
-Deixa as garotas em paz!- falou uma pessoa, introduzindo-se de repente na casualidade, puxando o bêbado para longe das meninas.O bêbado, aparentemente sem entender o que fazia, sumiu assim como apareceu:de repente.
As garotas olharam para o indivíduo que as livrara do incoveniente.Era um rapaz alto, moreno, forte, de óculos e de nobre aparência.O moço sorria para elas.
-Poxa, valeu pelo obséquio- disse Vivian, sorrindo.
-Não foi nada...- respondeu o rapaz, com olhar fixo para Vivian.
-Eu sou Vivian, e esta é Aline- disse a garota, apresentando-se e apresentando a amiga.
-Prazer em conhecê-las.Meu nome é Fábio.
-O prazer é todo nosso- respondeu Vivian, encarando encantada o rapaz.
-Então... as damas não querem se sentar em outro lugar?Aqui tá muito escondido.Por que não sentam em um lugar mais visível em que possam apreciar a festa?
-Obrigado, mas é que já vamos embora- falou Aline.
-Não, mas nós podemos ficar mais um pouquinho- disse Vivian, sorrindo- Depois nós vamos embora.
Aline olhou para Vivan, confusa.Não era ela quem estava pedindo para ir embora momentos atrás?
Os três dirigiram-se a um sofá mais próximo da “badalação”.Aline ia sentar-se ao lado de Vivian, mas Fábio a deteve.
-Não, não... Eu sento no meio.Assim posso conversar com as duas- disse, sorrindo.
“Sei...”- pensou Aline, sentando-se.
Fábio ficou a maior parte do tempo “xavecando” Vivian, e poucas vezes dirigia-se a Aline, que sentia-se “sobrando”.A garota mantia-se calada e quieta, apenas observando o movimento ao redor, que não estava muito agradável.O garçom passava vez ou outra com alguma bebida ou petisco, que Aline recusava terminantemente. “será que só tem bebida alcoólica nessa festa?” A garota sentia-se entediada, e pensava seriamente em ir embora, mesmo sozinha, caso Vivian não quisesse. Em determinado momento olhou para a porta e avistou figura conhecida, adentrando à festa.Era Beto.Imediatamente os olhos de Aline encontraram-se com os do rapaz, que pareceu ficar surpreso com a presença da menina.Aline por um momento tivera a impressão de que Beto dirigiria-se a ela, mas ele simplesmente conduziu-se para outro lado, onde estavam Karina e Diego.
Aline estava enfadada.Vivian e Fábio conversavam e sorriam sem parar, o que deixava a garota incomodada, pois ela mesma não estava se divertindo.
Enquanto a menina conservava-se “jogada” no sofá, com os braços cruzados e expressão emburrada, uma garota embriagada, que dançava no meio da sala, derramou um copo cheio de bebida em Aline, que levantou-se de imediato, desconcertada.
-Foi mal- disse a garota, às gargalhadas.
Aline olhou-a enraivecida, enquanto Vivian e Fábio observavam a cena.Respirou fundo.
-Vou no banheiro tá Vivi-disse , saindo. “Por que essas coisas só acontecem comigo?”
No trajeto ao banheiro, passou por Karina e Diego, que continuavam no mesmo lugar, conversando, perto do corredor que levava ao banheiro.
-O que aconteceu?- perguntou Karina, ao olhar para o vestido da irmã.
-Um pequeno acidente- disse a garota, saindo, sem entrar em detalhes.
A garota chegou ao banheiro, desapontada.Seu vestido estava ensopado, e a menina precisou torcê-lo para que gotejasse menos.Estava frustrada.Deveria ter escutado Vivian, que havia a aconselhado a não ir na festa.Só que agora até a própria Vivian estava se divertindo à beça.Mas se soubesse que a festa seria aquela decepção, nem teria insistido para ir.
Voltou à sala,desanimada.Não sabia que rumo tomar, pois não queria ficar perto de Vivian e Fábio “segurando vela”.A garota foi andando, sem destino, pela festa.Passou pelo lugar onde estavam Karina e Diego anteriormente, mas estes não estavam mais lá, e quem estava no lugar agora era Beto.Aline olhou para o garoto, que retribuiu o olhar.
-Oi Beto- disse , parando a frente do rapaz.
-Oi Aline, como vai?
-Bem, e você?
-Bem também.Que surpresa você aqui na festa.Não esperava encontrá-la aqui.
-E nem eu esperava vir- disse Aline, sorrindo.
Beto ficou olhando por alguns instantes para a garota, com um meio sorriso.
-Quer se sentar?
-Não, obrigada.Fiquei sentada até agora.Mas se você quiser...
-Não... Pra mim está bom aqui.Só perguntei porque, se caso você quisesse sentar, a gente procurava um lugar.
-O que você quiser eu quero-disse Aline, sorrindo.

Beto e Aline fitaram-se,calados .Nesse momento Elen apareceu.
-Tá fazendo o que sozinho aí Beto?Vem se divertir!- disse a garota, fingindo que não via Aline.
-Eu to bem aqui.Aline tá me fazendo companhia.Já estamos nos divertindo-disse, olhando para Aline.
Elen olhou para Aline, como se só naquele momento a estivesse notando.
-Ah tá... Já que você diz...- falou, com seu jeito esnobe.
Um garçom passava servindo bebidas variadas aos convidados.Beto pegou um copo e pediu refrigerante.O garçom serviu o refrigerante ao garoto, esvaziando a garrafa.Chegando na vez de Aline, só havia sobrado bebida alcoólica, que a garota rejeitou.
-Quer que eu pegue um refrigerante pra você Aline?- perguntou Beto, enquanto o garçom saía.
-Não Beto, obrigada.
-Deixa que eu pego, Aline-disse Elen-Não quero que nenhum de meus convidados sejam mal-servidos-falou, indo à cozinha.
Minutos depois, a garota voltou, com um copo de refrigerante em mãos.
-Sirva-se- disse, estendendo o copo a Aline.
-Obrigada- agradeceu a garota, enquanto Elen saía, com seu costumeiro “sorrisinho forçado”.
Aline olhou para dentro do copo, parecendo levemente frustrada.
-O que foi Aline?Tem algo de errado com o refrigerante?- perguntou Beto, reparando na expressão da garota.
-Não... É que eu não gosto muito de refrigerante de uva.
-Quer trocar?O meu é guaraná, você gosta?
-Gosto, mas não se incomode, pode ficar com o seu.
-Não... Eu faço questão que troquemos- disse o garoto, trocando o copo com Aline- Pra mim refrigerante é tudo igual- disse, sorrindo.
-Obrigada.
Aline bebeu rapidamente seu refrigerante, enquanto Beto ia tomando o seu aos poucos.Continuaram conversando normalmente, sobre variados assuntos.Beto falava sobre sua família, sua ida a Minas, seu regresso a igreja, com seu jeito sempre calmo e sossegado.Aline limitava-se apenas a ouvi-lo,e fazer um ou outro comentário, em alguns momentos.
Após algum tempo, Aline percebeu que Beto tornara-se um tanto inquieto.Parecia perturbado e até sua expressão havia mudado.Começou a tagarelar praticamente sem parar, o que era totalmente contrário aos seus costumes. Aline ficou assustada, sem saber o que acontecia, até que percebeu , quando Beto principiou a não falar “coisa com coisa”, que aquilo só poderia ser efeito de bebida ou, pior:seria efeito de algum alucinógeno ou algo assim?Começou a ficar preocupada.
Beto começou a falar coisas sem sentido, a fazer palhaçadas, e até a dirigir “cantadas” a Aline, o que a deixou mais preocupada ainda.
-Beto, o que há com você?O que foi que você bebeu?- perguntou, pegando o copo dele e observando a substância contida dentro.
O garoto apenas gargalhava e dava respostas sem sentido.Em determinado momento, o rapaz aproximou-se de Aline, tentando beijá-la.A garota tentava afastá-lo, sem sucesso.
-O que está acontecendo aqui?- perguntou Elen, aproximando-se.
-Eu não sei o que há com ele!- disse Aline, enquanto Beto afastava-se, fixando a vista em Elen, que parecia furiosa.
-O que você deu pra ele beber?
-Nada!Eu não dei nada!Foi o refrigerante que você deu que deixou ele assim!- nesse momento Aline se tocou.Se Elen havia dado aquele refrigerante a ela, era porque pretendia que o efeito fosse sobre ela!
-Refrigerante que eu dei?-perguntou Elen, admirada.
-É!Tem alguma coisa estranha naquele refrigerante- disse Aline, nervosa.
Elen pareceu desconcertada.Aline ficou imaginando se ela estava se dando conta de que havia sido a pessoa errada que caíra em sua armadilha.
-O que você ta querendo insinuar hein?Tá querendo dizer que eu coloquei alguma coisa dentro do refrigerante?-perguntou Elen, irritada.
Aline ficou quieta.Olhou em volta e viu que todos as estavam observando, e que até a música alta havia parado.
- Você ta me acusando de ter colocado alguma coisa no refrigerante, Aline?-insistiu Elen, se aproximando da menina.Seus olhos pareciam faiscar de raiva.
Aline ia responder, mas foi interrompida por um barulho vindo do lado de fora.Ela e Elen entreolharam-se.Todos os convidados saíram para ver o que acontecia e logo o barulho virou um grande tumulto, com gritos, assobios e até mesmo risadas.Elen correu para fora, seguida por Aline.
Chegando ao jardim da casa, Aline avistou Karina, no meio da multidão, assustada, chorando, enquanto Elen havia ido ver o que estava acontecendo no meio da roda que os convidados haviam formado.Aline colocou-se por entre a multidão , indo até onde estava a irmã.
-O que aconteceu Karina?Por que você tá chorando?
A resposta de Karina eram apenas soluços.Aline ficou esperando a irmã manifestar-se, o que não acontecia.A garota levantou a cabeça de Karina, que estava abaixada, e perguntou firmemente:
-O que aconteceu Karina?

sábado, 28 de novembro de 2009

Capítulo 21

O movimento estava intenso na livraria.Clientes entravam e saíam quase simultaneamente, obrigando os funcionários permanecerem constantemente ativos.Aline e Luís estavam no caixa, enquanto Henrique dava assistência aos fregueses espalhados pela loja.Era sexta-feira, dia de bastante movimento.
A agitação continuou por um certo tempo, até que chegou o momento em que os clientes deram uma trégua.Aline sentou-se aliviada numa cadeira, no interior do balcão, enquanto Henrique pegou um livro para ler.E Luís saiu.
Aline olhou para Henrique, tendo na memória o momento em que, durante aquela semana, vira-o conversando com Rick no fim da rua em que morava.
-Henrique...-falou ela, temerosa em atrapalhar o garoto.
-Sim?- respondeu Henrique, sem tirar os olhos do livro.
-Tem algum amigo chamado Richard?
-Sim- disse o rapaz, levantando o olhar para a menina- Por quê?
"Eram eles"- pensou Aline.
-Acho que os vi essa semana conversando lá na rua de casa.
-É mesmo?
-É... Bem, eu acho que era vocês.
Henrique olhou para Aline, com um leve sorriso, e depois voltou-se para o livro.
-Era?- insistiu Aline.
Henrique ia responder, mas na hora chegou uma cliente na loja.Aline olhou para a mulher.Era a mesma que viera outro dia na loja, querendo ver Luís.
-O Luís está?
-Não.Ele deu uma saidinha.Mas já deve estar logo de volta, a senhora não quer esperar?- disse Henrique.
-Não- respondeu a mulher, parecendo levemente desapontada- Depois eu falo com ele.Diz que Bárbara esteve aqui.
-Tudo bem...
A mulher saiu da loja, seguida pelos olhares curiosos de Aline e Henrique, que se entreolharam, confusos.Momentos depois, Luís chegou.Henrique deu-lhe o recado que a mulher pedira, e Luís ficou desconcertado ao ouvir o aviso, a mesma reação que tivera dias atrás, quando a tal mulher aparecera ali pela primeira vez.
Mais tarde, enquanto Aline reabastecia as prateleiras com os livros, Vivian apareceu na loja.
-Oi Aline!
-Oi Vivi!Que surpresa!
-É...Tava passando por aqui e resolvi lhe fazer uma visitinha.
-Que bom.
-E aí, trabalhando muito?
-Bastante!Já to exausta.
-Que horas você vai sai hoje do trabalho?
-Às seis, como sempre.
-E aí, você vai na festa da Elen hoje?
-É mesmo!Já tinha me esquecido dessa festa!
-Você vai?
-Ai eu não queria ir.Mas é desfeita ser convidada pra uma festa e não ir...Acho que eu vou.
Vivian deu de ombros.
-Vamo comigo, Vivi.
-Deus me livre!
-Ah vamo... A Karina perguntou pra Elen se você podia ir, e ela permitiu.
-Ah sei não Aline...
-Vamos,por favor!Só pra me acompanhar!
Vivian pensou um pouco.
-Tá bom, eu vou.Mas não vou demorar muito não, viu?
-Tá prometo que não demoraremos.
-Eu passo na sua casa às... Que horas vai ser mesmo a festa?
-Às sete e meia.
-Tá.Então antes de sete e meia eu passo lá.
-Combinado.
-Agora preciso ir.Tchau Aline.
-Tchau.
Aline ficou mais animada.Com Vivian ao lado não se sentiria tão deslocada.Após o término de seu turno, a garota correu pra casa, a fim de evitar atrasos.Entrou rapidamente, cumprimentando a mãe, que estava na sala, e subiu logo ao quarto.Karina estava sentada em frente ao espelho, terminando de se maquiar.
-Já tá se arrumando Káh?
-Claro... Não quero chegar atrasada na festa da minha amiga.E você decidiu ir?
-Sim.
-E a Vivian?
-Também.
Karina levantou-se, pegou o baby liss, e começou a ondular os cabelos, que já estavam com as mechas separadas.Aline fez uma careta, e conduziu-se ao banheiro.Depois de tomar um banho revigorante, voltou ao quarto, envolvida em uma toalha, e com os cabelos molhados.Karina ainda estava ondulando as madeixas.Aline abriu o guarda-roupa e pôs-se a examinar os modelitos, indecisa.Karina observava a cena pelo reflexo do espelho.
-Por que não vai com aquele seu vestido vermelho?
-Qual, esse?- disse Aline, retirando o vestido e mostrando-o à irmã.
-É.Ele é bonito.
Aline olhou para o vestido.Era mesmo bonito, mas não se sentia bem com ele.Talvez fosse sofisticado demais para seu estilo "largado".Mas decidiu.Iria com o vestido.Afinal, a festa era da Elen, e provavelmente Beto estaria lá.Precisava estar apresentável.Colocou o vestido na cama e começou a pentear os cabelos molhados.
-Você não vai secar os cabelos?-perguntou Karina.
-Não... Vou deixá-lo secar naturalmente.
-Ah não Aline.Deixa que eu seco pra você.Tá cedo ainda, dá tempo de fazer uma escova.
Aline odiava escovar os cabelos, afinal, ele já era "quase liso", e quando secava naturalmente ficava bonito.Mas decidiu permitir.
Após alguns minutos, Karina finalizou sua "obra-prima". Aline olhou-se no espelho.Seu cabelo estava escorrido, chegando quase à cintura.Estava bonito, mas sentia-se estranha.
-Você não gostou?- perguntou Karina, ao perceber a expressão inerte da irmã.
-Gostei... Mas é que me sinto estranha assim.
-É falta de costume... Você tá linda assim.Quer que eu te maqueie agora?
-Não... eu não gosto de maquiagem.
-Passa pelo menos um gloss- disse Karina, estendendo o cosmético para Aline.
-Depois eu passo- falou a garota, pegando o gloss e colocando-o em cima da cama- Vou me vestir primeiro.
A garota vestiu-se e calçou uma sandália de salto alto, que raramente costumava usar, mas para a ocasião, era a melhor opção.Olhou-se no espelho.Estava irreconhecível.De cabelos escovados, com um belo vestido vermelho e de salto alto.Só faltava o gloss.Pegou o produto e escorreu-o pelos lábios, deixando-os volumosos e brilhantes.Guardou o gloss junto com a maquiagem de Karina e voltou ao espelho.Olhou sua imagem refletida e ensaiou uma pose de modelo, fazendo biquinho e forjando um olhar sedutor.Depois deu uma gargalhada, zombando de si mesma.
-Tá maluca Aline?- perguntou Karina, saindo do banheiro e entrando novamente no quarto.
Karina estava ricamente trajada com um vestido verde, que combinava muito com seu corpo esbelto e que destacava seus olhos.
-Nossa... Tá linda hein!- disse à Karina.
-Obrigada.Você já tá pronta?
-To.Mas vou esperar a Vivian.Você já vai?
-Já.Ai que pena que o papai não tá aqui pra levar a gente de carro.
-Karina, fala sério.A casa da Elen é bem aí, pra que ir de carro?
Karina deu de ombros.
-Tchau Aline- falou, saindo.Mas minutos depois, voltou.
-Aline, a Vivian chegou!
-Tá, já to descendo- disse Aline, dando a última olhada no espelho.
Quando Aline desceu à sala, Vivian estava sentada no sofá, à espera dela.Estava com um vestido lilás, na altura do joelho, de salto alto e com os cabelos encaracolados soltos.
-Uau!- disse, quando avistou Aline descendo da escada- Quem é essa?
-Engraçadinha...
-Tá muito bonita.
-Obrigada.Você também tá.
-Não precisa mentir...
Aline sorriu da anedota da amiga, meneando a cabeça.Karina estava na porta, à espera das meninas.
-Pensei que fosse na frente, Káh.-disse Aline à irmã.
-É que na hora que eu tava saindo, a Vivian chegou.Então achei que poderia esperar mais alguns minutinhos por vocês.
Aline e Vivian se entreolharam.
-Então, vamos?- disse Vivian, levantando-se.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Capítulo 20

-Aline, acorda!
-Hã?
-Telefone pra você!
-Pra mim?- perguntou Aline, abrindo os olhos.Sua mãe estava ali, ao lado de sua cama, com o telefone sem fio nas mãos.
-Quem é?
-A Vivian.
Aline pegou o telefone, ainda sonolenta.
-Alô!
-Alô, Aline?Tava dormindo?
-É...- falou Aline, com a voz um pouco rouca-Já que estamos de férias, não tem problema acordar um pouco mais tarde, né?
-É.Mas você não vai trabalhar hoje?
-Eu vou à tarde.
-Ah tá.
-Então... o que te fez me acordar a essa hora, espero que seja por um bom motivo hein!- falou Aline, sorrindo.
-Ah, é que o Lucas pediu pra eu te dar um aviso.
-Qual?
-Sábado ele vai fazer uma festa de despedida pro Beto, e conta com nossa presença.
-É mesmo?
-É...
-Tudo bem.Você vai?
-Vou, não pelo Beto, mas pelo Lucas, que tá contando com a gente.
-Hum...
-E você vai? Ah claro né... pergunta tola.
-É.
-Bem, então tá.Depois te ligo, quando souber de mais detalhes.Agora volta a dormir, parece que está com sono ainda né?
-Um pouco.
-Então tá.Até mais Aline.
-Até Vivi.
Aline colocou o telefone ao seu lado.Deitou novamente, a fim de dormir mais um pouco, mas não conseguiu e acabou por despertar-se.Viu que Karina, estava ali, na frente do espelho, penteando o cabelo.
-Vai sair Karina?
-Sim.Vou ao shopping comprar um vestido.Tá chegando a festa da Elen e eu preciso ter o que vestir.
-É verdade, a festa é nessa sexta, né?
-Sim.E você já decidiu se vai?
-Ainda não.
Karina finalizou o cabelo, guardou a escova e já ia sair.
-O que esse telefone tá fazendo aí?- perguntou,olhando para a cama de Aline.
-Ah é que  a mamãe me acordou pra atender um telefonema.Daí depois ela saiu do quarto e eu deixei o telefone aqui e voltei a dormir.
-Ah tá... Deixa eu levar ele lá pra baixo- disse Karina, se apossando do aparelho e saindo.
Aline levantou-se, tomou um banho e desceu para tomar o café da manhã.Passou pela sala e viu sua mãe, conversando ao telefone.A garota foi até a cozinha, preparou seu café e sentou-se à mesa.Minutos depois Helena apareceu na cozinha, sorrindo.
-Bom dia filha!
-Bom dia mãe.
-Tava falando com sua tia Betty agora a pouco- disse Helena, sentando-se.
-É?E como ela está?
-Está bem.Vai vir esse final de semana pra cá.
-Que legal.E a Leandra também vem?
-Ah sim... Ela passará as férias conosco.
-Ai que bom! To morrendo de saudades dela.O Rodrigo também vem?
-Sim.Também passará as férias aqui.
-Que maravilha.Pena que não poderei passar muito tempo com eles.
-Por quê?
-Por causa do trabalho.
-Ah é verdade- falou Helena, pensativa.
-Cadê o papai, já foi trabalhar?
-Já.
-E quando ele viaja?
-Hoje à noite.
-Já?- perguntou Aline, parando de beber o café.
-Já... Mas dessa vez acho que não demora.
-Será?
-Pelo menos foi o que ele disse.
O telefone tocou, e Helena levantou para atender.
-Aline, é pra você!- gritou, da sala
-Quem é?- perguntou Aline, levantando-se e correndo.
-É a Vivian de novo.
Aline pegou o telefone.
-Oi Vivi.
-Oi.To ligando pra te contar mais detalhes sobre a festa de sábado.
-Você falou com o Lucas?
-Não.Com a Patrícia.
-E então?
-A festa será na casa do Lucas, às 7:30.Mas precisamos  chegar antes do Beto, então devemos estar lá pelo menos 15 minutos antes.
-Ok.É festa surpresa?
-É.
-Legal.
-Aline, quero te fazer uma pergunta.
-Pode fazer.
-Você vai sair na sexta à noite?
-Talvez.Por quê?
-É que eu tava planejando pegar um cineminha com a galera, mas já que você não pode ir, vou cancelar.A propósito, pra onde você vai na sexta?
-Pro aniversário da Elen.
-Aniversário da Elen?- Vivian estranhou.
-É...
-Ela te convidou?
-Sim.
-Quando foi que vocês viraram amigas?
-Nós não viramos amigas.
-E por que ela te convidou pra festa dela?Vocês nem se falam.
-É, também não entendi o motivo do convite.
 -Que estranho... Você vai mesmo?
-Não sei.Não decidi ainda.
-Se eu fosse você não ia.
-Por quê?
-Sei lá... Vai saber o que essa garota tá aprontando.
-Então você acha que eu não devo ir?
-Eu acho que não.Mas você é quem decide.
-Eu não to muito a fim de ir, vou ficar deslocada lá.
-Eu também ficaria...
-E se você for comigo?
-Eu? Sai fora!Nem fui convidada...
-Eu peço pra Karina falar com a Elen...
-Karina?Ela é amiga da Elen?
-É.
-Ihhh...
-O que foi?
-Ah nada... Deixa pra lá.Depois a gente conversa, vou dar uma saidinha agora, depois você me liga, tá?
-Tá bom.
-Tchau Aline.
-Tchau.
Aline desligou o telefone e dirigiu-se à cozinha para continuar sua conversa com a mãe, mas esta não estava mais lá.Então a garota foi até o quintal, pretendendo dar uma olhada na caixa de correio.Quem sabe seu admirador não havia deixado algo pra ela aquele dia?Chegou-se ao portão e abriu a caixa.Estava vazia.Abriu então o portão e saiu.Sempre gostara de observar o movimento na rua, pena que ultimamente não tinha muito tempo para isso, e aproveitando o momento, sentou-se na calçada.Gostava de ver as pessoas que passavam, cumprimentar e rever os vizinhos.Olhou para o lado direito, lá no finzinho da rua.Tinha duas pessoas , aparentemente conhecidas ,conversando.Pareciam Henrique e Richard.Mas o que será que os dois faziam juntos?Desconhecia tal amizade.Teve vontade de ir até lá falar com eles.Levantou-se, sacudindo a poeira que ficara em sua roupa, e já ia principiar a andar, mas quando olhou não viu mais Rick.E nem Henrique.Ambos já haviam ido embora.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Capítulo 19

Aline tomou o último gole de café rapidamente.Levantou-se, pegou suas coisas e já ia sair, quando sua mãe entrou na cozinha.
-Já vai sair, filha?
-Já... Papai já deve estar me esperando lá no carro.
-Ainda não.Ele esqueceu um documento lá no escritório e foi buscá-lo.
-Ah sim... mas de qualquer maneira vou esperá-lo lá fora.
-Tudo bem.
-Tchau mãe- disse a garota, dando um beijo na face da mãe e saindo logo em seguida.
-Tchau filha, vai com Deus.
Aline abriu a porta.Era a última semana de aula, e seguindo a "tradição", a maioria dos alunos não estavam mais indo à escola, entre eles, Karina.
Ao fechar a porta, Aline deu uma rápida olhada para o portão, e percebeu um vulto que sumiu rapidamente tão logo ela pôs a vista na rua.Correu para ver se conseguia avistar quem era a pessoa, mas quando abriu o portão e saiu não se via mais ninguém.Olhou para a caixa de correio.Obedecendo a um impulso, abriu-a para ver se tinha algo dentro.Havia um envelope pink.Certamente o vulto que rapidamente desaparecera era de seu admirador secreto, que deixara sua "lembrancinha misteriosa" ali e desapareça tão logo a avistara.Abriu o envelope, pegou o papel de dentro dele e leu:

Deixa que eu te ame
No silêncio da minha alma
No recanto dos meus sonhos
E na quietude dos meus lábios
A contemplar o sol que se esconde
A águia que voa em liberdade
E no canto da minha poesia solitária
Na calmaria do teu pranto
E na doçura da tua boca
A falar-me em versos mudos
A história de um amor

-Vamos embora?- falou Carlos, aproximando-se.
-Claro!- respondeu Aline, jogando rapidamente o papel e o envelope dentro da bolsa.
-O que foi que você escondeu dentro da bolsa quando eu estava chegando?- perguntou o pai da garota, já dentro do carro.
-N-Nada...- gaguejou Aline, corada."Ele percebeu!"- pensou.
Carlos olhou para a filha, sorrindo.
Em poucos minutos chegaram à escola, e Aline, despedindo-se do pai, entrou rapidamente.Logo no corredor avistou Vivian em pé, na porta da classe.
-Oi Vivian!
-Oi Aline...
-Chegou cedo hoje, pelo que vejo.
-É... Acho que saí muito cedo de casa.
-Sei...
-Aline, você fez aquele trabalho final de geografia?
-Fiz, e você?
-Também fiz, mas não sei se ficou bom.Dá uma olhada- disse a garota, estendendo o trabalho a Aline.
-Ficou bom, Vivi- disse Aline, examinando o trabalho.
-Deixa eu ver o seu.
Aline abriu a bolsa, e pegou o trabalho, que estava dentro de um livro, deixando cair no chão o envelope pink e o papel que estava dentro dele.
-Que isso?
-Ah é uma cartinha anônima que recebi hoje quando saía de casa.Essa é a sétima que recebo- falou a garota, abaixando-se pra pegar o papel e o envelope do chão.
-Sério?Deixa eu ver...
Aline estendeu o papel à amiga, que principiou a lê-lo.
-Nossa.. que romântico.É um admirador secreto?
-Parece que sim.
-Quem será hein?
-Não faço a mínima idéia.
-Mas não tem nenhuma pista de quem possa ser?
-A única pista que tenho é que ele é da igreja.
-E como você sabe que ele é de lá?
-Ele deixou um envelope na minha bíblia dias atrás, na Escola Dominical.
Vivian assumiu uma expressão pensativa, enquanto observava o papel.Nesse momento a sirene da escola soou, anunciando o início da aula.Rick chegou logo após, apressado.
-Oi Rick!- cumprimentou Aline.
-Oi...
-Se atrasou hoje é?
-É... vim correndo, mas consegui chegar a tempo!- disse, dirigindo-se para sua classe, enquanto Vivian e Aline entravam na delas.
-O que será que o Rick estava fazendo pra chegar atrasado na escola?Ele dificilmente se atrasa.- comentou Vivian com Aline ,enquanto ambas sentavam-se em suas carteiras.
-É... Mas sempre tem a primeira vez né...
-É...
Vivian fitou Aline por alguns instantes, enquanto esta retirava seu material da bolsa e o colocava em sua mesa.
-Aline...
-Hã?- perguntou a garota, distraída.
-Você disse que recebeu esse envelope hoje de manhã, né?
-Sim...
-Aonde você o encontrou?
-Dentro da caixa de correio.
-Humm...- murmurou Vivian, principiando a retirar seu material da bolsa também.
-Inclusive- disse Aline,olhando fixamente para Vivian, como se estivesse recordando-se de alguma coisa- Quando eu tava saindo, vi um vulto que desapareceu rapidamente, no portão lá de casa.Acho que era o tal "admirador"...
-É?
-Sim...Mas por que você perguntou aonde encontrei o envelope?
-Por nada...- disse Vivian, pegando um livro e principiando a lê-lo.
No intervalo, as garotas dirigiram-se à mesa de sempre, no refeitório, depois de passarem pela cantina para comprarem seus lanches.Sentaram-se à mesa, no momento em que uma garota baixinha e magra passou, olhando para Aline.Era Valéria, a garota que Aline vira um dia conversando com Rick.
-Sabe essa menina aí?- perguntou a garota para Vivian, apontando para Valéria, quando essa se afastava.
-O que tem ela?
-Ela e Rick tavam " de paquera" dias atrás, mas ele desistiu porque achou-a muito novinha e imatura.
-É?- perguntou Vivian, surpresa.
-Sim...Lembra que ele vivia misterioso um tempo desses, saindo as vezes pra resolver uns "assuntos importantes"?
-Lembro.
-Ela era o assunto importante.
Vivian ficou pensativa.
-Bem que eu os vi juntos uma vez, conversando no corredor.
-Eu também vi.Inclusive foi no dia em que eu e você brigamos.
-Foi nesse dia também que os vi.
Aline mordiscou seu hambúrguer, enquanto observava o movimento em volta.Olhou para o canto direito do refeitório.Beto estava ali, sentado à mesa, conversando com uns amigos.A menina ficou olhando por um longo tempo, enquanto Vivian a examinava com olhar perscrutador.
-Continua apaixonada por ele né?
-Hã?
-Você continua apaixonada pelo Beto.
-É...- respondeu Aline, sem jeito,voltando a mordiscar seu hambúrguer.
-Se eu fosse você esquecia.
-Vivian... já conversamos sobre isso lembra? Você, como eu, sabe que não é fácil esquecer alguém assim de uma hora pra outra.
-Sim, eu sei.Leva tempo pra gente esquecer, mas é o melhor a fazer quando percebemos que a pessoa não vale a pena.
-Como assim?
Vivian olhou para Aline tranquilamente, dando uma mordida em seu sanduíche.
-Aline... sinto muito em ter que dizer isso tá?Mas não acho que o Beto seja confiável.
-Por que não?
-Ele é fingido Aline.Se faz de bonzinho, de inocente, quando na verdade é muito espertinho.
-E o que te leva a pensar isso?
-Sabe aquela história de que ele não sabia que você gostava dele?É puro fingimento!Até parece que ele não sabia... Todo mundo sabia, todo mundo percebia, tava na cara! E por que só ele não se dava conta disso?
Aline olhou para Vivian, pensativa.
-Ele gosta de esnobar Aline.Ele fica "se achando" sabendo que tá sendo disputado.Não leva em conta os sentimentos de ninguém, e não valoriza o seu.Ele é um conquistador barato!
-Você acha mesmo Vivi?
-Você é inocente Aline... Só que ele tem malícia de sobra.Não caia na dele!
Aline deu uma mordida no hambúrguer, confusa.Será que Vivian tinha razão?Beto não parecia ser o tipo de pessoa que a amiga descrevera.Olhou para o lado, onde o garoto estava.Ele olhou para ela por alguns instantes, depois desviou o olhar, voltando a conversar com os amigos. "Não acredito que o Beto seja tão insensível".

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Capítulo 18

-Sua irmã... Karina! Ela também gosta do Rick.
-Karina?
-É...
-Como você sabe disso?
-Ouvi uma conversa...
-Mesmo?Tava fazendo espionagem é?- perguntou Aline, sorrindo.
-Não... Ouvi a conversa sem querer.
-Conta...
-Sabe aquele dia em que discutimos?
-Sei.
-Quando saí da classe, fui direto pra biblioteca.Comecei a olhar os livros, e daí ouvi umas vozes do outro lado da estante.Aí eu dei uma olhadinha e vi que era a Karina e aquela amiga dela... que eu esqueci o nome... Aquela ruivinha chata que anda com ela.
-A Camila?
-Isso, ela mesma.
-E o que elas diziam?
-A Camila tava perguntando se ela ainda ia insistir “no tal esquema”.Daí ela disse que o esquema não era eficaz e que ia arranjar outra maneira de “amarrar” o Rick.
Aline ficou olhando para Vivian, boquiaberta.Pensou um pouco e depois disse:
- Sabe Vivi, um dia desses ouvi também uma conversa entre ela e a Camila, lá em casa.A Camila tava dizendo pra Karina que tinha tantos garotos a fim dela, e por que ela queria logo um que não gostava dela.E depois disse que ela tava jogando sujo pra conquistar a tal pessoa.
-Nossa essas duas precisam ser mais discretas se não quiserem que os outros ouçam seus segredos... Mas... Só não entendi bem porque a tal Camila disse que a Karina ta jogando sujo.
-Nem eu.
Rick chegou correndo esse momento, com expressão animada.
-Descobri que iremos assistir uma peça teatral no fim do passeio.Aquele pessoal que tá ali- disse, apontando para os jovens na frente do Teatro- fazem parte do elenco da peça.
-Sério? Que legal...- disse Aline.
-Qual peça vai ser, eles disseram?- perguntou Vivian.
-“O noviço”.
-Ah já li esse livro.É uma comédia não é?- perguntou Aline.
-Sim.
Um dos guias chegou ao refeitório anunciando o reinício das visitas aos laboratórios, pedindo aos visitantes que se organizassem em fila.Os alunos se organizaram, e em poucos minutos estavam no laboratório de anatomia.A sala tinha várias mesas, e em cima de cada uma havia caixas de vidro com partes do corpo humano em cada uma delas.Os guias explicavam o conteúdo do curso, enquanto os visitantes examinavam atentamente cada exemplar exposto.
-Será que esses órgãos são de verdade?- perguntou Vivian à Aline.
-Não sei...
-Ouvi dizer que são- disse Rick, introduzindo-se na conversa.
-Credo!- exclamou Vivian, enojada.
-O que é aquilo?- perguntou Rick, apontando para um chuveiro no canto da sala.
-Um chuveiro, ora!- respondeu Aline.
-Eu sei que é um chuveiro, mas pra que serve?
-Rick, pra que serve um chuveiro?
-Eu sei pra que serve um chuveiro, mas eu quero saber por que tem um chuveiro num laboratório de anatomia!
-É que aqui os alunos mexem com produtos químicos - respondeu um dos guias que ouvia a conversa, se aproximando- Então tem esse chuveiro aí pra eles lavarem bem as mãos.
Era o guia que havia ficado de olho em Aline.
-Interessante...- respondeu Rick, observando o rapaz, enquanto este mantinha os olhos fixos em Aline.
A garota olhou sem jeito, e dirigiu-se para o outro lado da sala com Vivian, procurando fugir do olhar do guia.
-Tá fazendo sucesso hein- gracejou Vivian.
Aline olhou para a amiga, com um meio sorriso.
-O cara é bonitinho. Por que você fica fugindo dele?- continuou Vivian.
-Ah sei lá... Não to a fim de paquera .
-Se eu fosse você aproveitava...
-Vivi!Eu nem conheço o cara.
-Mas pode passar a conhecer...
Aline olhou para a amiga, meneando a cabeça.
Os alunos visitaram mais alguns laboratórios, até que ,chegando o fim do passeio, os guias anunciaram a apresentação da peça teatral.Todos dirigiram-se ao Teatro Universitário.
Aline sentou-se com Vivian e Rick na primeira fileira da platéia.Todos estavam ansiosos para o início da apresentação, inclusive Rick, que permanecia o tempo todo com olhar perscrutador para todos os detalhes do recinto.
-Em breve vocês me verão num lugar desses, dirigindo peças teatrais.
Aline e Vivian entreolharam-se.
-Irei assistir todas as peças que dirigir, Rick- disse Aline.
-Eu também- completou Vivian.
-Prometo que não se decepcionarão.Serei o melhor diretor teatral que já conheceram.
-O melhor e o único, né- disse Aline sorrindo.
Foi anunciado o início da peça por um dos guias, que pediu silêncio e atenção à platéia.Todos ficaram quietos.
Abriram-se as cortinas, e no palco estava um homem, de pé, no meio do cenário, que consistia em uma sala ricamente adornada.O homem principiou a falar, sozinho, sobre riquezas e fortunas.Logo após entrou uma mulher, vestida de preto, e ambos iniciaram um diálogo.
Aline assistia atentamente à peça, olhando de vez em quando para Rick, que permanecia o tempo todo atento e com expressão de contentamento, e para Vivian, que ficava o tempo todo com ar de riso.
A interpretação dos atores arrancava risos da platéia, sobretudo nas cenas em que aparecia o noviço, protagonista da peça, executando suas travessuras. Aline lembrou-se de Henrique.Ele era quem costumava fazer travessuras na faculdade.Aquele protagonista lhe lembrava muito o rapaz.
Tão logo a peça teatral terminou, a platéia levantou-se e aplaudiu de pé a apresentação.Rick, além de aplaudir, dava altos assobios, deixando Aline e Vivian irritadas por causa do barulho ensurdecedor.
Quando foram saindo, Aline, Rick e Vivian iam comentando animadamente sobre a peça, quando o guia que ficava “no pé” de Aline, apareceu de repente na frente dela, encarando-a fixamente.
-Obrigado pela visita.O que achou da faculdade?
-Eu gostei- disse Aline, um tanto desconcertada, enquanto Rick e Vivian observavam a cena.
-Volte mais vezes.Por que não vem estudar aqui ano que vem?
-B... bem...- disse Aline, gaguejando- Quem sabe.Talvez...
-Espero que decida vir.Vai ser um prazer recebê-la.
-Obrigada- falou a garota, nervosamente- Tchau!- disse saindo rapidamente.
-Nossa, que cara grudento!- comentou Rick, enquanto saíam.
-Pois é...fiquei até com medo dele.
-Ele é engraçado- falou Vivian, sorrindo.
-E estranho !- disse Rick.
Momentos depois estavam lá fora, em frente à faculdade, aguardando a saída do ônibus.
-E aí, o que acharam da faculdade?- perguntou Rick às garotas.
-Eu gostei muito.
-Eu também.
-Tô pensando em estudar aqui ano que vem.
-Mas é longe Rick.Tem certeza que estará disposto a vir pra cá todos os dias?- perguntou Vivian.
-Eu posso morar por aqui.Arranjo uma vaga na república de estudantes e “já era”.
Vivian olhou para Aline, preocupada.
-Vai morar aqui então?
-Sim... Mas nos fins de semana volto pra Guarulhos.
O ônibus chegou, e pouco a pouco os alunos foram entrando.Aline sentou-se ao lado de Vivian, e Rick sentou-se atrás das duas, ao lado de um garoto, amigo dele. Aline olhou para o prédio da faculdade, pela janela do ônibus.Era enorme.Havia gostado do passeio.Foi a oportunidade de ter uma idéia de como seria sua rotina como universitária, fosse naquela instituição ou em outra qualquer.Se desse tudo certo, ano que vem estaria numa faculdade, marcando definitivamente sua passagem para a vida adulta.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Capítulo 17

Aline observava os estudantes andando de um lado para o outro pelas dependências da faculdade.Em breve,se tudo desse certo, aquela seria também sua rotina.
O passeio estava sendo legal; os guias, que também eram estudantes da instituição, eram muito atenciosos e divertidos.Um deles, que aparentava ser o mais jovem de todos, havia ficado “de olho” em Aline.Dirigia-lhe olhares o tempo todo e não cessava de encher-lhe de perguntas quando surgia oportunidade.A garota fingia não perceber o interesse do rapaz, respondendo a cada olhar e a cada pergunta vagamente.
Já haviam visitado vários laboratórios, dos mais variados cursos que a faculdade oferecia, mas nem mesmo tais visitas tinham amenizado a indecisão e irresolução que a garota tinha em relação à escolha do que estudar.
Deu uma mordida no cachorro-quente.Estava no refeitório da faculdade, sentada sozinha à mesa.Haviam parado para fazer um lanche, mas logo após continuariam as visitas aos laboratórios.Olhou para o lado e viu Vivian, também sozinha, três mesas após a sua.Do outro lado estava Rick, conversando com alguns estudantes que conhecera durante as visitas.
Abriu a bolsa e pegou um envelope vermelho. Havia recebido-o naquela manhã, quando saía de casa.Abriu, retirou o papel e leu:

Repentinamente aparecestes
Sem recado
Sem aviso ao meu coração
Para que me preparasse diante da emoção
Desde o momento que te vi
muitas coisas mudaram
meus olhos brilharam
e desde este instante
dentro de mim, uma súbita paixão
nasceu
E assim é todos os dias
O amor nasce e renasce
Dia e noite e vice-versa
Fomos feito um para outro
E que seja sempre assim

Guardou o papel rapidamente no envelope, colocou de volta na bolsa, e fechou-a.Ia levantando-se quando alguém pôs a mão em seu ombro, levemente.Olhou para trás.Era Vivian.
-Oi Aline...- falou Vivian, timidamente.
-Oi...- respondeu Aline, surpresa.
-Podemos conversar?
-Claro!
Vivian sentou-se na cadeira da frente, olhando fixamente para Aline. Abaixou a cabeça por alguns instantes, depois levantou o olhar e disse:
-Desculpe Aline- disse a garota, observada atentamente pela amiga- Eu fui muito infantil esses dias, e te tratei tão mal praticamente sem motivo.Como se você tivesse culpa pelas minhas desgraças.
Aline continuou fitando amiga, calada.
-Eu tava com a cabeça cheia, sabe.Juntei o problema dos meus pais com o problema que tenho em relação ao Rick, e aí acabou virando essa bola de neve- continuou a garota, abaixando a cabeça, e levantando o olhar em seguida.
-Mas agora, depois de um bom tempo que fiquei isolada, pensei bastante em tudo e cheguei à conclusão de que não fazia sentido eu me afastar de você,e nem dos outros- disse a garota, olhando para Aline, esperando que esta se manifestasse.Aline continuou quieta, olhando para a amiga.
-Fala alguma coisa Aline!- disparou Vivian, de repente.
Aline olhou para a garota, espantada.Depois começou a dar risada, seguida por Vivian, que começou também a sorrir.
-Já tá voltando ao normal né?Essa é a Vivian que eu conheço!
Vivian continuou sorrindo.
-Bem- iniciou Aline, tornando-se séria novamente- Eu entendo Vivi, que você tava sofrendo... Só não entendo ainda porque você se isolou de todo mundo e ficou esse tempo todo sumida.O que estava havendo exatamente?
Vivian assumiu uma expressão triste.Fitou a amiga seriamente e disse:
-Aline... Meus pais se separaram.
-Poxa Vivi.Sinto muito...
-Eu também sinto muito, mas... o que posso fazer? Só resta eu me conformar agora.
-Nossa que triste.Agora entendo porque você tava tão cabisbaixa.
-Mas isso não é o pior, Aline.Se meus pais tivessem se separado de forma amigável, seria menos mal.Mas não.Eles tiveram uma briga horrível e se separaram da pior forma possível.Eles discutiram na minha frente, se agrediram verbalmente e disseram coisas horríveis.Eu fiquei abalada!
Aline ficou olhando a amiga, condoendo-se.
-Depois da discussão- continuou Vivian- Minha mãe foi embora.
-Sua mãe?- perguntou Aline, admirada.
-É. Na verdade ela foi a causadora de tudo.Ela tava traindo meu pai, Aline!
-Poxa!
-Daí meu pai descobriu e eles brigaram feio.Então ela foi embora.
Aline pousou sua mão na de Vivian, carinhosamente.
-Imagino como deve ter sofrido, amiga.Como eu queria estar lá pra te dar um apoio.
-Bem, Aline...- disse Vivian, com a cabeça baixa- Apreciaria seu apoio, mas acho que eu precisava mesmo ter ficado sozinha, sabe.
-Entendo.
-Eu precisava de um tempo pra analisar tudo que estava acontecendo.Mas me perdoa Aline, eu não tive intenção de te magoar.Eu tava um pouco chateada por causa dos meus pais e também por causa do Rick, mas entenda, a nossa discussão foi efeito da angústia que eu tava sentindo pelos problemas lá em casa;nesse dia eu já tava mal, porque já previa a separação, e quando aconteceu então, foi o golpe mortal. Mas acho que a gente nem teria discutido se eu não estivesse passando por problemas com meus pais.
-Tudo bem, Vivi, você tá perdoada.Eu entendo que você tava passando por situações difíceis.Eu não tava com raiva com raiva de você, mas tava muito preocupada.Cheguei a pensar até que seria o fim da nossa amizade.
-Até mesmo eu pensei isso.-falou Vivian, sorrindo -Mas, obrigado por ser tão compreensiva, Aline.Apesar de ter preferido ficar sozinha durante esses dias, senti muito a sua falta sabia?
-Eu também senti sua falta, Vivi- disse Aline, levantando-se e dando um abraço na amiga, que também se levantou para receber o abraço.
-Que bonitinho!- exclamou Rick, se aproximando- Também quero!- disse, abraçando as meninas.
As garotas sorriram.
-Tão comemorando alguma coisa?
-Sim...- disse Aline, olhando para Vivian- O recomeço da nossa amizade.
-Very good! Exclamou Rick , observando as meninas, curioso, procurando descobrir algo em seus olhares.
-Fico feliz pelo restauração da amizade- disse, sorrindo- Mas, então... o que estão achando do passeio?- falou, mudando de assunto.
-Eu to adorando- disse Aline.
-Eu também.
-Que bom.Eu to gostando também.Mas ainda não me interessei por nenhum dos cursos que vimos.
-Eu gostei de fisioterapia- comentou Vivian- E de educação física também.
-Eu gostei de Letras e Psicologia.
- Não visitamos ainda o curso que me interessa.
-E por qual curso você se interessa?- perguntou Vivian.
-Artes Cênicas.
Vivian olhou para Aline, admirada.
-Quer dizer que você gosta de representar?- perguntou a garota.
-Gosto.Mas o que eu quero mesmo é ser diretor teatral.
-Legal...
-Interessante, Rick, acho que vai se dar bem nessa área- comentou Aline.
-Espero.Eu to muito interessado em tudo isso.
-Desejo sucesso, Rick.Você tem talento.- disse Vivian, olhando fixamente para o rapaz.
-Obrigado Vivian- disse o garoto, abrindo um sorriso.
Vivian olhou para Aline, sorridente, enquanto Rick olhava para o lado, avistando algo.
-Esperem um minutinho...- disse o garoto, prestando atenção a um grupo de jovens que estavam saindo do Teatro Universitário- Já volto!- disse, correndo em seguida.
Aline aproximou-se de Vivian, enquanto esta observava Rick retirando-se.
-Você continua caidinha por ele hein...- falou, gracejando.
Vivian olhou para Aline, assumindo uma expressão desanimada.
-É... mas pretendo esquecê-lo.Eu sinto que minhas chances com ele diminuem a cada dia, então pra que insistir?- disse, encarando Aline fixamente.
-E por que não insistir mais um pouco?
-Eu não posso competir com você Aline.
Aline fitou Vivian, séria. “Já vai começar...”- pensou.
-Além do mais- continuou Vivian- Tem mais gente a fim do Rick.E eu não to a fim de competir com mais uma.
-É mesmo?- perguntou Aline, curiosa.
-Sim...
Aline ficou encarando Vivian, pensativa, e enfim ,perguntou:
-Quem é essa pessoa Vivian?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Capítulo 16

O despertador toca, estridente.Aline levantou-se da cama lentamente, bocejando e se espreguiçando.Olhou para o lado.Karina ainda estava dormindo. “Ué, invertemos os papéis hoje?” Levantou-se ,desligou o despertador, e foi chamar a irmã.
-Karina, acorda!- falou a menina, sacudindo a irmã.
-Hã?- murmurou Karina, mais “dormindo que acordada”.
-Hora de ir pra escola.
Karina abriu os olhos, levantando-se e sentando-se na cama.
-O despertador já tocou?
-Já.
-Eu não ouvi.
-Ué, trocamos os papéis?Hoje eu ouvi o despertador e você não?
-É que ontem eu fui dormir tarde.
-E eu fui dormir cedo.
-Ai que chato ter que ir pra escola!- falou Karina, levantando-se.
-Calma, tá quase chegando as férias.
-É, mas faltam ainda 2 semanas.
-Passam rápido- disse Aline, lembrando-se que tão logo as férias chegassem, Beto iria embora.Não gostava de imaginar a ocasião em que tal dia chegaria; como seria sua vida daí pra frente?
***
Aline não conseguia se concentrar na aula.Seu corpo estava na sala, mas sua mente estava bem longe.Era já a 3ª aula, mas em todo esse período poucas coisas a garota conseguira absorver da explicação dos professores.Pensava em sua vida, em seus problemas, e em Vivian, que estava sentada lá atrás, no fundo da sala, isolada.Aline olhava para trás de vez em quando, mas Vivian mantinha sua vista distante.
No final da 3ª aula, o diretor entrou na sala, para anunciar à classe os alunos que haviam sido escolhidos para fazer o passeio à faculdade.O homem iniciou explicando os critérios utilizados na seleção dos alunos e em seguida citou o nome de cada um.Aline e Vivian estavam entre os selecionados.A garota ficara feliz, e ao mesmo tempo triste, pois sabia que não teria a companhia constante de sua amiga durante o passeio.
Quando o sinal soou anunciando o intervalo, Aline procurou um lugar para ficar, pois a mesa de sempre no refeitório não era a mesma quando ela estava sozinha, sem Vivian.Encontrou um lugar em um espaço arborizado , num pequeno jardim que havia no colégio, e sentou-se, encostada numa árvore.Não fora à cantina, pois não sentia fome.Queria apenas descansar sua mente naquele tranqüilo lugar.Fechou os olhos, procurando desviar a tensão.Ficou alguns minutos assim, até que lembrou-se que havia recebido mais um envelope aquela manhã, que ainda não havia lido.Quando saía de casa, encontrou-o na caixa de correio, e sem tempo para lê-la, guardou-a no bolso.Tirou o envelope do bolso.Era um envelope alaranjado; estava todo amassado.Pegou o papel que havia dentro e leu:

Abençoado amor…..que chegou de mansinho…
Me enredou em seus carinhos como uma fina teia
Rompendo suave e persistente as minhas barreiras…
Vencendo meus medos e receios tolos
Curando as cicatrizes que a vida fez em mim
Afastando de mim o medo de tentar …de sofrer outra vez

Amo você



-Sozinha de novo?
Aline levantou a cabeça, olhando para a pessoa que estava ali em sua frente.Era Richard.
-É...sozinha de novo- repetiu a garota.
-O que houve?Cadê a Vivian?- perguntou o rapaz, sentando-se.
-Não sei...
-O que está acontecendo, Aline?Vocês sempre ficam juntas, e já faz algum tempo que as vejo distantes.
-Acho que ela tá com raiva de mim...É que tivemos uma discussão dia desses, e a partir daí não nos falamos mais.
-Que chato.Vocês têm uma amizade tão legal.Já tentou falar com ela?
-Já.Mas ela parece que não tá muito a fim de falar comigo.
-Sinto muito- disse Rick, fixando a vista no papel que Aline tinha em mãos- O que é isso?
-É uma das cartinhas anônimas que venho recebendo durante esses dias.
-Ah... De um admirador secreto?
-Pelo visto sim.Ou é alguém querendo me “zuar”.
-Você acha?
-Talvez... Não conheço nenhum garoto que goste de poesias, que possa estar me enviando-as.Quem é que pode ser o louco que tá interessado por mim?- disse Aline, gracejando.
-Que isso Aline... Em se tratando de você qualquer um viraria poeta, até eu!
Aline olhou para Rick, surpresa.O garoto olhou sem jeito para a menina, arrependendo-se do comentário que fizera.Os dois ficaram calados por alguns instantes, até que Rick, quebrou o silêncio.
-Então... você foi selecionada pra ir ao passeio à faculdade?
-Fui, e você?
-Eu também.Fiquei super animado.
-Eu também fiquei.
-Se eu gostar do que vir, quem sabe vá estudar lá ano que vem?
-Mas é um pouco longe, não é?
-É, mas eu posso ficar morando na República de Estudantes, e volto pra cá nos finais de semana.
-Legal...- falou Aline, analisando a idéia.
-Já sabe que curso vai fazer?
-Não... Tô indecisa ainda.
-Eu to interessado em Artes Cênicas.O que você acha?
-É legal...
-Você tem cara de quem quer cursar Letras.Você não gosta de ler, escrever e essas coisas?
-Gosto... Mas não sei ainda se é isso mesmo que eu quero.
-Humm...
-E por falar em gostar, Rick... Como vai você e a Valéria?
-Eu e a Valéria...- disse o garoto pensativo- Eu e a Valéria vamos bem... Eu na minha e ela na dela.
-Como assim?
-Somos apenas amigos, Aline.
-Mas e pensei que você e ela...
-Eu sei o que você pensou.Mas não deu certo, tá?
-Por que não?
-No início até pensei que tínhamos algo em comum.Mas percebi que não... A Valéria é muito novinha e imatura.Além disso, acho que não to preparado ainda pra me apaixonar por outra pessoa.
-Por outra pessoa?Como assim Rick?
Rick olhou para Aline, pensativo.Ia falar alguma coisa, mas desistiu.
-Deixa pra lá Aline...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Capítulo 15

Aline espanava a poeira dos livros nervosamente.Estava agitada.Naquela manhã acordara inquieta, com a mente demasiadamente pesada com questionamentos relativos ao acontecimentos dos últimos dias.Por que Vivian a estava evitando?Por que Karina estava tão estranha?E quem era o misterioso admirador que enviava-lhe as poesias?Sem falar que ainda tinha o Beto, que brevemente iria embora.Eram tantas as perguntas que lhe atormentavam...E não tinha a resposta de nenhuma delas.Terminou de tirar a poeira dos livros, e dirigiu-se ao balcão, onde estava Henrique, escrevendo em um caderno.A garota encostou-se ao balcão, observando os escritos do rapaz.
-Você escreve poesias, Henrique?- perguntou a garota admirada ao perceber o conteúdo dos escritos.
-É... arrisco uns versos- falou o rapaz sorrindo.
“Se ele fosse da igreja, desconfiaria que era ele quem estava me escrevendo aquelas poesias”.
Aline continuou observando Henrique, desanimada.
-O que você tem Aline?- falou o rapaz, olhando para a garota.
-Hã?- perguntou a garota, distraída.
-Você tá estranha.Aconteceu alguma coisa?
-Tô com uns probleminhas...
-Do coração?
-Mais ou menos- falou a garota, sorrindo.
-Acontece...
-Pois é... o que se pode fazer para evitar, não é?
-É...
Henrique parou de escrever, olhando para Aline, com olhar interrogativo, enquanto a garota olhava para o chão, pensativa.
-Quer desabafar?Sou um ótimo conselheiro, sabia?
-É mesmo?Não sabia que possuía essa virtude.
-Possuo...Pode conversar comigo quando quiser.
Aline sorriu, acanhada.Abriu a boca para falar algo, mas nesse momento Luís chegou agitado na loja, “destruindo” qualquer chance que Aline tinha de conversar com Henrique.
-Aline, preciso de um favor seu- falou o homem, enquanto procurava algo no bolso.
-Pois não.
-Preciso que vá na lanchonete ali da esquina.Me traga um refrigerante e um pastel- disse, estendendo o dinheiro para a garota.
-Tudo bem.
A garota saiu da loja em direção à lanchonete.Luís era engraçado; ele não havia acabado de voltar do almoço?Mal comeu e já estava com fome de novo?
Entrou na lanchonete, fez os pedidos e se pôs a esperar.Ficou a observar o movimento dentro do estabelecimento; havia muitas pessoas nas mesas, e muitas outras entrando e saindo.Olhou para a porta e avistou duas figuras conhecidas.Eram Beto e Elen.A garota surpreendeu-se ao vê-los entrando.Não haviam terminado o namoro?E por que estavam se encontrando normalmente, como se nada houvesse acontecido?
A atendente entregou o refrigerante e o pastel a Aline, e a garota pagou, saindo em seguida, sutilmente, tentando não ser vista.Chegando perto da porta, esbarrou em um senhor que entrava, chamando a atenção de todos que estavam assentados perto da porta, entre eles, Beto e Elen.
-Desculpe!- falou Aline ao senhor, envergonhada.
Beto e Elen olharam para a garota, surpresos, enquanto ela, constrangida, saiu rapidamente porta a fora.Como ficara envergonhada!
Chegando à loja, entregou o lanche ao chefe e dirigiu-se ao balcão, já que Henrique havia ido atender a algumas tarefas no estoque.Sentou-se numa cadeira, aliviada por poder ter alguns minutos de descanso.Não havia muitas coisas para fazer e o movimento estava fraco na loja.Voltou a pensar nos acontecimentos dos últimos dias.E dos últimos minutos.Ficara "encucada" ao ver Beto e Elen juntos novamente.Será que haviam voltado a namorar?
Essa manhã, Vivian fora à escola, mas manteve-se o tempo todo distante, e na hora do intervalo, sumiu.Aline estava com medo.Vivian era sua amiga havia 5 anos, e durante todo esse tempo nunca haviam tido uma briga séria, apenas pequenas discussões.Será que dessa vez perderia a amiga?
Enquanto mantinha sua mente ocupada com os problemas, chegou uma cliente na livraria.Era uma mulher alta, muito bonita, e jovem ainda.Aproximou-se do balcão e perguntou a Aline sobre Luís, dizendo que precisava vê-lo.Aline foi chamar o patrão, que se encontrava em uma pequena sala, nos fundos da loja, onde havia transformado em um tipo de escritório.O homem acompanhou Aline, que voltou para o balcão, enquanto o chefe ia ao encontro da tal mulher.A garota ficou de longe, observando-os disfarçadamente.Tivera a impressão de que Luís ficara desconcertado ao deparar-se com a mulher.O homem ficou em um canto, conversando misteriosamente com a mulher, que pareceu por alguma razão ter ficado chateada.Alguns minutos depois, foi embora, e Luís voltou para sua sala, parecendo um tanto sem graça.Aline fez de conta que não viu nada, mas ficou cismada com a cena que viu.
Às seis, quando terminou seu turno, a garota voltou para casa, sozinha, pois Henrique precisara ficar mais algum tempo com Luís.Chegando ao bairro avistou de longe Karina e Elen, em frente ao portão de sua casa, batendo papo.A garota chegou na calçada em que as meninas estavam e foi passando direto pelas duas, mas qual não foi sua surpresa quando ouviu Elen cumprimentá-la, em alto e bom som, dizendo:
-Olá Aline!
Aline, que já tinha dado alguns passos à frente das garotas, olhou para trás, admirada, e respondeu:
-Oi... Elen.
Elen deu um sorrisinho forçado para Aline, que abriu o portão de casa e entrou, sem delongas. “Que milagre!”- pensou Aline, surpresa pelo fato da “garota esnobe” ter cumprimentado-a.Certamente aquele “sorrisinho falso” que lhe dera significava uma provocação, ou algo assim.
Depois de algum tempo, Karina entrou no quarto, onde Aline já estava a um bom tempo, sentada em sua cama.
-Isso é seu Aline- falou Karina, estendendo um cartãozinho rosa para a irmã.Era um convite de aniversário.
-Meu?- disse Aline, examinando o cartão.
-A Elen decidiu te convidar pra festa dela.
-É?- perguntou Aline, admirada.
-Eu não disse que ela era uma fofa?
Aline olhou para a irmã, desconfiada.
-Não sei se vou...
-Ah qual é Aline?Vai ser bacana.Tenho certeza que você vai gostar.
Aline não tinha tanta certeza disso.Afinal por que Elen a havia convidado para a festa dela?Estaria ela aprontando alguma coisa?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Capítulo 14

Aline sentou-se na escada que dava à galeria.Patrícia e Lucas puseram-se à frente da garota, em pé.Conversavam sobre Vivian.
-Quer dizer que você não a encontrou durante toda essa semana?- perguntava Lucas.
-Não...Liguei várias vezes, fui na casa dela e nada.Não sei o que houve.
-Que estranho- disse Patrícia- Será que tem a ver com o problema dos pais dela?
-Acho que sim.Minha mãe contou que estão dizendo que os pais delas vão se separar.
-Poxa, tadinha da Vivi...
-Ela deve tá mal.
-Mas o pior gente, é que da última vez que nos vimos, acabamos discutindo.
-Vocês discutiram?- perguntou Lucas, admirado.
-É...Ela não tava muito bem esse dia, e aí eu me irritei também e acabamos discutindo.
-E por que vocês brigaram?- perguntou Patrícia, curiosa.
-Bem- principiou Aline, sem jeito- É que ela colocou na cabeça a idéia de que o Rick gosta de mim.
-E ela gosta dele, não é?-perguntou Lucas.
-Ela te contou?
-Não... mas eu percebi.Eu “pego as coisas no ar”.
-Sei...Mas então... foi por isso que discutimos.
Patrícia e Lucas se entreolharam.
-Isso tá me cheirando a rivalidade?- perguntou Lucas, desconfiado.
-Como assim?
-Vocês brigaram por causa do Rick...
-Nós brigamos porque eu me irritei justamente com a idéia de que ele gosta de mim.Não foi exatamente por causa dele...
Patrícia e Lucas novamente se entreolharam.
-Mas então faremos assim- disse Lucas, mudando de assunto-Se a Vivian não vier à igreja hoje, iremos fazer-lhe uma visita, ok?
-Por mim tudo bem- disse Patrícia.
-Ok- falou Aline.
-Agora vamos subir?- disse Lucas.
Os três subiram à galeria.A classe estava incompleta ainda, mas Rick já estava à frente, pretendendo dar início à aula.
-Nossa, mas já?- cochichou Patrícia, quando sentaram-se.
-Esqueceu que hoje é o Rick quem está no comando?- falou Lucas.
Richard começou dando uma pequena “bronca” nos alunos por ultimamente estarem chegando atrasados à aula, e salientou que iniciaria sempre a aula naquele mesmo horário.
O garoto começou a lecionar com habilidade, e atraía toda a atenção dos alunos para si, até mesmo daqueles que eram meio “lentos” para entenderem. Discorria sobre a passagem de Marcos 3.13-19, que narrava a eleição dos doze discípulos que Jesus nomeou para ajudá-lo em sua obra.
Em determinado momento, Aline “correu” a vista pela sala para observar melhor o número de alunos que estavam na classe.Lá atrás estava Fernando, tendo Beto e Diego ao seu lado( o que muito impressionou a garota).Karina estava na frente deles, cochichando com as amigas.
Aos poucos os alunos foram chegando.Aline percebeu que Rick estava um pouco irritado com os atrasos, sobretudo na hora em Vivian chegou, quase na metade da aula.A garota dirigiu- se a um dos bancos do fundo, e manteve-se séria o tempo todo,olhando sempre na direção em que Rick estava, sem desviar o olhar nem para um lado nem para o outro.Ao término da reunião, Vivian saiu rapidamente, sem despedir-se de ninguém.Aline foi atrás dela, correndo as escadas e dirigindo-se à portaria para ver se a alcançava.Mas Vivian já ia longe.Voltou frustrada à galeria.Pegou sua Bíblia, que havia deixado em cima do banco.Quando pegou-a caiu de dentro dela um envelope branco.Aline pegou o envelope do chão e abriu.Era novamente do tal admirador secreto. “Mas então ele está aqui na igreja”- pensou- “Provavelmente colocou o envelope na minha Bíblia na hora em que eu saí”.Olhou em sua volta.Estavam Beto e Fernando conversando de um lado, Rick conversando com um garoto da igreja, César, de outro, e algumas meninas “fuxicando” em frente à escada.”Será que foi alguns deles?” Olhou para o papel que tinha em mãos.Leu:

Há um lugar
Onde os sonhos fazem parte
E a realidade também
Onde o céu é azul
O imenso mar é cristalino
Cheio de algas, peixes corais...
Há um lugar
Uma ilha
Onde mora o amor...
É aqui que eu te espero
No azul do céu... no verde do mar...
Ao som dos pássaros... no calor do sol...
Na fresca brisa
Há um lugar
O nosso lugar...
Dentro de nossos dois corações
Que pulsam feito um só
Eu amo você!

-Cartinha do namorado?
Aline levantou o rosto, assustada, para a pessoa que falava com ela.Era Beto.
-Não...- falou a garota.
-Tem certeza que não?Acho que é hein...
Aline sorriu.
-Bem... eu não sei de quem é.
-Então é um admirador secreto.
-Parece que sim.
Beto olhou bem nos olhos de Aline.
-Tá fazendo sucesso, pelo que vejo.
-Talvez não... E se for uma brincadeira que estiverem fazendo?
-Não acho que seja- falou o garoto, continuando com seu olhar fixo.
“Será que é ele?”- pensou a garota.Olhou para o relógio e viu que já estava tarde.
-Bem...Preciso ir.
-Tá.Tchau-falou Beto, secamente.
-Tchau-respondeu a garota, imaginando se Beto iria novamente lhe dar um beijo na face.Mas ele simplesmente ficou parado, observando-a se afastar.
Beto era estranho às vezes.No mesmo momento em que a tratava com tanto carinho,agia como se não tivesse nenhum "vínculo emocional" com ela.
Aline desceu as escadas correndo.Seus pais já deviam estar esperando a um bom tempo.Aproximou-se do carro, abrindo-o e entrando rapidamente.Só estavam seu pai e sua mãe lá dentro.
-Ué, cadê a Karina?- perguntou a garota, olhando para os lados.
-Pensamos que estivesse com ela- respondeu Carlos.
-Não...ela não estava comigo.Vou procurá-la- disse, saindo do carro.
A garota passou pela portaria, olhando para os lados, entrou na igreja, subiu à galeria, havia muita gente conversando no ambiente, mas nem sinal de Karina.Desceu novamente.Conduziu-se ao corredor que levava à secretaria.Era-lhe possível ouvir algumas vozes vindas de lá.Aline aproximou-se a passos lentos, temendo que estivesse atrapalhando alguma coisa.Chegou no corredor.Eram Karina e Diego, que conversavam animadamente, à vista de alguns jovens que entravam e saíam da secretaria.Aline aproximou-se, constrangida.Os dois olharam surpresos para Aline, que estava no início do corredor, olhando para eles.
-Karina- falou Aline, hesitante- Papai está nos esperando no carro.
-Tô indo- falou Karina, indiferente- Tchau Diego, até mais.
-Tchau- falou o rapaz, sorrindo, de forma que Aline ficara surpresa, pois algo que nunca presenciara Diego fazer era sorrir.
Karina e Aline dirigiram-se ao carro.Karina fora o caminho inteiro calada, sendo observada pela irmã, que a olhava de vez em quando tentando descobrir algo em seu olhar.Quando chegaram em casa, Aline aproveitou o momento em que estavam no quarto, sozinhas, para matar sua curiosidade.
-Não sabia que você conhecia o Diego, Káh.
-Conheci hoje- respondeu Karina, sem tirar os olhos do livro que tinha em mãos- Você já o conhecia?
-Sim.Conheci ele lá na livraria.
-Sei...
-Ele é tão diferente do Fernando né?
-Aline...eles são gêmeos, são iguais.
-Não to falando na aparência, to falando na personalidade.
-Ah tá... Isso é verdade.
-Acho que ele gostou de você.Viu o sorriso dele?Nunca vi o Diego sorrindo.
Karina olhou para a irmã, com um meio sorriso.
-O que você achou dele?- perguntou Aline.
-Legal.
-Só isso?
-Legal, bonito...
-Humm... eu não sabia que ele era crente.Não parece ser.
-E não é.
-Não?
-Não... Ele disse que só foi na igreja porque o Fernando insistiu.
-Sei...
Aline olhou para a irmã, lembrando-se da conversa que ouvira entre ela e Camila.Parecia que Karina não havia se interessado muito por Diego, será que era por causa da tal pessoa que estava gostando?
-Tá a fim de alguém Karina?- perguntou impulsivamente à irmã.
Karina olhou para Aline, surpresa.
-Como assim?
-Ah Káh...Você entendeu.
A garota abaixou a cabeça, fingindo prestar atenção a outra coisa.
-Ele também gosta de você?- insistiu Aline.
-Não sei...
-Quem é ele, Káh?
Karina olhou para Aline, irritada.
-Chega de perguntas por hoje ,tá?- falou, levantando-se da cama e saindo do quarto.Karina era tão admirada e conseguia tudo o que queria por sua beleza, agora parecia que não estava sendo correspondida em seus sentimentos.Quem será que “ousava” rejeitá-la?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Capítulo 13

Aline olhava o papel que tinha em mãos, enquanto descansava deitada em sua cama.Aquela manhã, quando saía para a escola, checou a caixa de correio, como se acostumou a fazer nos últimos dias, e encontrou esse papel, dentro de um envelope verde, em estilo semelhante à do outro envelope azul que recebera.Dizia:

Impossível de esquecer...VOCÊ
Tentei te tirar da minha mente
Tentei encontrar uma maneira finalmente
De aprender a viver longe de ti
Enganei meu coração
Tentando te esquecer
Tudo é em vão
Pois em cada parte de mim
Ainda há um pedaço de ti...

Aline observava o papel, curiosa.Pensava, pensava, mas não chegava a conclusão alguma.Quem dos rapazes que conhecia poderia estar lhe mandando tais cartas?Será que algum dos que conhecia costumava escrever poesias?
Karina entrou de repente no quarto, agitada.Aline escondeu rapidamente o envelope com o papel embaixo do travesseiro.
-Já vai dormir?- perguntou Karina admirada.
-Não...to só descansando enquanto o jantar não fica pronto.
-Humm...sei.Você tá sabendo que o papai vai viajar de novo?
-Tô.
-Ninguém merece!- falou Karina, se jogando em sua cama- Vamos voltar a andar de ônibus de novo.
-Isso não é o pior...O ruim é que ficamos morrendo de saudades do papai.Ele fica tanto tempo fora durante essas viagens.
-É...
Aline ficou olhando para a irmã, enquanto esta pegava uma revista e começava a folheá-la.Karina estava misteriosa ultimamente.Desde o episódio do envelope amarelo e depois o da conversa que ouvira entre ela e Camila, a garota ficara estranha.Não a olhava nos olhos, e parecia que vivia fugindo.Era um milagre ela estar ali naquele momento, no mesmo ambiente, conversando e interagindo tranquilamente.
-Tenho que procurar um modelo de vestido- comentou Karina, folheando a revista- Tenho uma festa pra ir.
-É?De quem?
-Da Elen.
Aline olhou para Karina, surpresa.
-Não sabia que você tinha amizade com a Elen.
-Não tinha mesmo.Passei a ter agora, que a Camila me apresentou pra ela.Ai ela é uma fofa!
Aline olhou para a irmã, incrédula.
-Você acha mesmo?
-Acho!
-Quer dizer que a Camila é amiga dela...
-Sim.E agora eu também sou.Formamos o trio das “superpoderosas” da escola.
“Trio das “superenjoadas”, isso sim”- pensou Aline.
-E quando é a festa dela?
-Daqui a duas semanas.
-Humm...
-Você foi convidada?
-Não...
-Ah tá ... esqueci que vocês não se dão muito bem, né?- disse Karina, dando um sorrisinho.
Helena bateu à porta, anunciando às meninas que o jantar estava pronto.Karina e Aline desceram à cozinha.Aline comeu rapidamente, pois precisava ainda fazer um trabalho para a escola.
Após o jantar, Aline voltou ao quarto.O trabalho da escola era para ser feito em dupla, mas Aline faria sozinha, já que Vivian novamente não havia aparecido na escola.Estava preocupada.Ligara para a casa da amiga no dia anterior, mas ninguém atendeu.O que poderia ter acontecido?Decidiu ligar novamente.Desceu à sala, dirigiu-se ao telefone e discou o número de Vivian.O telefone chamava, mas ninguém atendia.Fez mais duas tentativas, mas sem sucesso.O que estava acontecendo?Se Vivian não aparece na escola, iria até a casa dela.
No dia seguinte, Vivian não apareceu na escola.Aline foi trabalhar depois da aula, mas decidiu ir na casa da amiga após o trabalho.
No término de seu turno, a garota foi caminhando até a casa da amiga, que ficava perto da livraria, no centro da cidade.Chegando lá, aproximou-se do portão, e tocou a campainha.Esperou que alguém aparecesse, mas ninguém se manifestou.Fez mais algumas tentativas, mas ninguém aparecia. Em determinado momento tivera a impressão de haver visto um vulto de alguém aparecendo rapidamente na janela.Mas mesmo assim ninguém saiu da casa.Aline foi embora, um pouco decepcionada.Estada muito preocupada com a amiga.Vivian nunca sumia assim, inexplicavelmente.Será que viajara?Esse sumiço estava muito estranho.
Aline chegou em casa, aflita.Sentou-se no sofá da sala, cansada.
-Demorou hoje, filha- disse Helena, entrando na sala.
-É que eu fui na casa da Vivian.Já que ela não apareceu mais na escola, fui procurá-la pessoalmente.
-É?E como ela está?
-Não sei.Ninguém atendeu quando toquei a campainha.Acho que não tinha ninguém em casa.
-Sei...Fiquei sabendo que os pais dela estão com problemas.Será que é por isso que ela está sumida?
-Provavelmente.Ela tá muito abalada com tudo isso.
-Parece que os pais dela vão se separar.
-Sério?
-É o que andam dizendo.
-Nossa... coitada da Vivian.Deve tá sofrendo.E o pior é que eu não consigo falar com ela, queria tanto apoiá-la nesse momento.
-É, ela deve tá precisando.
Carlos entrou em casa, vindo do trabalho.Tinha envelopes à mão.
-Boa noite!- disse o pai de Aline, dando um beijo em Helena, e em seguida dando outro beijo na filha- Esse envelope é pra você, Aline- falou, estendendo-o para a menina.
Aline pegou o envelope.Dessa vez era rosa, e provavelmente provinha da mesma pessoa que ultimamente vinha enviando aquelas cartas para ela.Dirigiu-se à varanda, já que Karina estava no quarto, dando graças a Deus pelo pai não haver perguntado sobre o que se tratava o envelope.Abriu-o, tirou o papel e leu:

Como eu queria que as coisas fossem diferentes
Como eu queria que nesse teu coração tivesse um lugarzinho pra mim
Como eu queria ser quem fizesse teus olhos brilharem à minha presença
Teus lábios se abrirem lânguidos num sorriso suave …
Ao me ver chegar de mansinho pra você!!
Como eu queria......
Ser aquele que, avistado….pressentido…
Arrancasse da tua alma os sonhos mais sonhados
Como eu queria….ser a tua realidade


Aline ficou alguns segundos olhando para o papel.Duas cartas anônimas no mesmo dia.Esse poeta estava mesmo determinado.Voltou-se para sair da varanda e deu de cara com Karina, que estava atrás dela, observando-a.
-Que susto Karina!Faz tempo que você tá aí?
-Não.Cheguei agora.
Karina mantinha a vista no envelope.
-Que envelope é esse?
-Bem...- falou Aline, hesitante- É que eu ando recebendo umas cartas anônimas ultimamente.Essa chegou agora a pouco.
Karina ficou olhando para Aline, séria.
-Será que você tem um admirador secreto?
-É o que parece.
-Humm... interessante.- falou a garota, lançando um olhar espreitador para Aline, e saindo em seguida.