quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Capítulo 4

Ali, na frente de Aline, estava Beto, fitando-a com seu jeito calmo e sossegado.Ficaram por alguns instantes se encarando, sem pronunciarem palavra, até que Beto, tomando a iniciativa, quebrou o silêncio.
-Está esperando alguém?
-Não...quero dizer, sim!-respondeu a garota,desconcertada- Estou esperando minha irmã.
-Entendi...falou Beto, sorrindo do embaraço da garota.
Aline abaixou a cabeça, sem jeito.
-Será que poderíamos conversar?
-Bem...- falou a garota um tanto hesitante- É que estou apressada.
-Entendo...à tarde você não teria um tempo livre?
-Estarei trabalhando durante toda a tarde.
-Você está trabalhando?- perguntou o garoto, admirado.
-Sim.
-E você sai muito tarde do trabalho?
-Umas 6 horas...
-Então podemos conversar depois que acabar seu turno?Prometo não tomar muito seu tempo.
-Podemos.
-Então eu passo lá e a gente conversa.
-Tudo bem.
-Então...tchau!- despediu-se, já saindo.
-Espera!Você não sabe onde eu trabalho.
-É verdade...- falou o rapaz, sorrindo- Como pude me esquecer?Onde você trabalha?
-Numa livraria no centro da cidade, perto da praça...
-A livraria do Luís?- perguntou o garoto, interrompendo a garota.
-Sim.Você o conhece?
-Sim.Ele e meu pai eram muito amigos, quando ele ainda morava aqui em São Paulo com a minha mãe.
-Ah, sei...- falou Aline tristemente, lembrando que Beto ia embora.
-Bom...Então nos encontramos às 6-falou o garoto.
-Tudo bem.
-Tchau-disse, já saindo.
-Tchau.
Aline respirou fundo.Toda vez que falava com Beto suas pernas tremiam e seu coração batia mais forte.Era óbvio que seu sentimento  continuava forte pelo garoto, pois só de pensar nele, suas emoções se agitavam de tal forma que ficava difícil se conter.O que será que ele queria lhe falar?Será que havia voltado a gostar dela?Será que ele queria se despedir?Vários pensamentos rondavam sua mente e sua cabeça estava a mil naquele momento, de forma que nem percebera que Karina já havia aparecido e estava ali, na sua frente.
-Ei, Aline!- dizia Karina, sacudindo a irmã- Acorda!Tá sonhando?
-Hã?- falou Aline, despertando.
-Tá no mundo da lua é?
-Ah, é que...Opa, espera aí!Aonde você estava hein?- desconversou- Tô aqui te esperando há um tempão!
-Eu tava conversando com umas amigas...
-E nem se preocupou com o horário né?
-Ai Aline, se você estava tão apressada, porque não foi logo embora?
-Porque eu tenho responsabilidade,Karina.O que a mamãe ia dizer se eu chegasse em casa sem você?
-Eu já sou bem grandinha,Aline!Sei me cuidar, não preciso de você!- disparou Karina, irritada.
Aquelas palavras doeram em Aline.Só o que estava tentando fazer era protegê-la, afinal era sua irmã mais velha, e sentia-se responsável por ela.Mas Karina, na sua sede por independência e na ilusão de que podia fazer o que quisesse sem precisar dar satisfações a ninguém, não entendia isso.
Foram caladas durante todo o percurso para casa, como vinha acontecendo já a muitos dias.Quando chegaram, sua mãe estava falando ao telefone, aparentemente animada e com uma expressão muito alegre no rosto.Aline dirigiu-se à cozinha.A mesa já estava posta, provavelmente a um bom tempo, pois a comida já havia esfriado.A garota colocou a comida no prato e introduziu-a ao microondas.Depois retirou-a e foi se sentar à mesa.Minutos depois Helena entrou na cozinha, sorrindo.
-Tenho ótimas notícias, meninas.
-Mesmo?-perguntou Karina, sentando-se à mesa.
-Sim...Mas antes de dizer qual é a notícia, quero saber por que chegaram tarde em casa.
Aline sorriu.Sabia que sua mãe não deixaria tal fato passar em “branco”.
-Bem mãe...- principiou a garota- É que a Karina ficou conversando com umas amigas depois da aula e esqueceu a hora.Por isso chegamos mais tarde.
-Sei...
-Agora diga,mãe, qual é a boa notícia?- perguntou Karina, curiosa.
O rosto de Helena iluminou-se.Abriu um largo sorriso, mostrando em sua expressão que estava muito feliz.
-Seu pai voltará esse fim de semana.- falou.
-Papai vai chegar? –exclamou Aline.
-Ai que bom!- exclamou em seguida Karina.
-É, parece que a negociação lá foi um sucesso e ele conseguiu antecipar a volta.
-Que saudades do papai!-falou Aline.
-Ah graças a Deus voltarei a andar de carro!Ninguém merece andar de ônibus!- exclamou Karina, aliviada.
O pai das meninas estava no exterior, representando seu patrão em uma viagem de negócios.O homem arrumara esse emprego havia poucos meses, após sua antiga empresa, que estava passando por dificuldades, falir.Depois deste episódio, a família passara por severas provações, tendo que depender da igreja e dos parentes para suprirem suas necessidades básicas.Conseguiram manter apenas a casa e o carro, precisando se desfazerem de vários outros bens para pagarem parte das dívidas que a falida empresa havia lhes rendido, além de precisarem imediatamente “baixar” o nível e qualidade de vida que tinham até então.Mediante a situação difícil, Aline conseguira empregar-se na pequena livraria do centro da cidade, onde não ganhava muito, mas o suficiente para manter sua vaga no colégio, enquanto seu pai conseguira um bom emprego em uma grande empresa do país, no qual o salário lhe permitia pagar a vaga de Karina na escola, e manter razoavelmente a família, visto que grande parte do dinheiro que ganhava era usado para pagar suas dívidas.
Após o almoço, Aline dirigiu-se à loja, onde passou a tarde inteira ansiosa pelo término de seu turno.Trabalhava inquieta, e até mesmo distraída, de forma que  Luís ou Henrique precisavam chamar-lhe a atenção por diversas vezes.As horas passaram-se lentamente para a garota, como se fossem uma eternidade.Quando enfim chegou a hora marcada para o encontro, Aline despediu-se dos colegas de trabalho e ficou do lado de fora da loja, à espera de Beto.Ele ainda não havia chegado.Aline ficou agitada, olhando sempre para o lado e para o outro, à procura do amado.Poucos minutos depois, o garoto aparecia, correndo apressado.
-Demorei?- perguntou, ofegante.
-Um pouco.Você está atrasado exatamente...- disse, olhando para o relógio- 3 minutos.
-Não é tanto...- disse o garoto, sorrindo.
“Mas parece uma eternidade quando se trata de esperar por você”- pensou a garota.
-Aonde conversaremos?- perguntou.
-Você se importa de irmos a uma lanchonete, ou você está com pressa?
-Não estou apressada.
-Então vamos.
Os dois dirigiram-se a uma lanchonete próxima.Sentaram-se à mesa e fizeram seus pedidos à atendente.
-Bem...principiou Beto- nem sei por onde começar...
Aline sorriu timidamente.
Beto tornou-se sério.Encarou firmemente a garota e principiou:
-Por que se afastou de mim, Aline?
Aline olhou surpresa para o garoto. “Por que me afastei de você Beto?”

4 comentários:

  1. Aqui estou eu novamente. Uma linha de romance com pitadinhas de mistério. Dá pra sentir desejos de adolescentes reprimidos, a relação difícil entre duas irmãs e a responsabilidade de uma menina que se vê numa queda de padrão de vida. Uma história como tantas outras da vida real.

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  2. É isso aí. A história está começando muito bem. Prende a atenção.
    Graça e Paz a todos!

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  3. Tá muito boa essa história. Bem próxima da vida real.

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  4. O que será que passa na cabeça desses garotos as vezes? ela se afastou dele? ele com namorada e ela gostando dele... sei não...
    To gostando muito da história, passando pro próximo capítulo...

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