Capítulo 16

Ao perceber a presença de Aline,Léo se levantou sorridente e a cumprimentou com um beijinho no rosto.

-Você é pontual.Faz tempo que está aqui?-a garota perguntou enquanto sentava-se ao lado do rapaz.

-Faz.Depois que cheguei do trabalho só tomei um banho e vim direto pra cá dar uma mãozinha pro meu tio.

-Seu tio?

-Meu tio é o dono dessa pizzaria.De vez em quando venho ajudá-lo.

-Ah sei...-disse Aline,observando o movimento agitado do ambiente.Ali era o ponto de encontro dos estudantes à noite.

-De que pizza você gosta?-Léo perguntou-Aqui temos muitas variedades.

-É,percebi-respondeu Aline percorrendo o olhar pelo cardápio-Mas eu sou bem básica.Mussarela pra mim tá bom.

-Que tal meio-a-meio?Mussarela e calabresa?

-Por mim tudo bem...

-Ótimo-disse Léo,levantando-se para pedir as pizzas.Minutos depois o pedido chegava à mesa.

Aline serviu-se silenciosamente.Observando a fisionomia tranqüila de Léo enquanto o mesmo servia-se também,ela cogitava o que o rapaz pretendia com aquele convite.

Léo iniciou uma conversa casual,a que Aline respondia apenas com monossílabos.Estava um tanto apreensiva.De vez em quando ficava pensativa e se perguntava o que estava fazendo ali,afinal.

O tempo foi passando,e a conversa continuava casual.A garota começou a se convencer de que Léo não queria nada mais que apenas uma boa amizade.Mas e aqueles olhares que lhe dirigia de vez em quando?Não parecia olhar de amizade.

De repente,em um momento que o assunto aparentemente havia acabado,Léo mudou o discurso e olhou fixamente nos olhos de Aline.

-Sabe que eu gostei de você desde a primeira vez que te vi?

Aline engoliu em seco.Já não esperava mais uma declaração aquela noite.

-Você é uma garota diferente.Nunca conheci ninguém como você-continuou o rapaz.

-Como assim?-Aline perguntou,tentando esconder seu nervosismo.

-Você é diferente das garotas que eu já conheci.Tem algo a mais,e é mais interessante também.

Aline sorriu sem jeito.O rapaz aproximou-se da garota.

-Eu gostaria de ficar mais próximo de você.Sei lá...A gente podia sair mais vezes.

Aline lembrou de que precisava ser inflexível.Não deveria aceitar nada contra sua vontade só para agradar os outros.Devia ser sincera e firme em suas resoluções.

-Podemos ser amigos-a garota disse tentando forçar um sorriso.

-Amigos já somos.Podemos ser mais que isso-disse o rapaz aproximando-se mais.Aline tentava fugir.

-Bem...

-Se você não quiser compromisso,tudo bem.A gente só fica,não tem nenhum problema nisso.

Mas Aline via sim problema nisso.Seus princípios iam contra esse tipo de relacionamento,e sabia que Deus também não se agradava disso.Mas resolveu dar um “desconto” ao pedido ousado,afinal Léo não conhecia a Deus e nem entendia seus princípios.

-Olha Léo-principiou,tentando escolher bem as palavras-Eu não sou adepta desse tipo de relacionamento.

-Ora...Então podemos namorar oficialmente,melhor ainda.

-Léo...Continuaremos a ser apenas amigos.Você é um cara legal,mas eu...eu...-Aline tentou achar palavras para expressar seu pensamento.

-Você gosta de outro cara-Léo completou.Aline não esperava essa observação vinda do colega.Não sabia se dizia que sim ou que não.

-Você é a fim daquele seu amigo,né?-Léo continuou.

“Tá tão na cara assim?”-Aline pensou.

-Não é isso...-a garota tentou desconversar.

-É sim,você gosta dele.Eu já percebi ...

-Se for,isso não vem ao caso.

Léo deu um sorrisinho sarcástico.

-Ele não dá a mínima pra você-disse o rapaz.

Aline ficou surpresa com o comentário.

-Você deveria partir pra outra,como ele fez.Ano passado quando os vi pela primeira vez,ele parecia gostar de você.Mas agora parece que cansou.Acho que...

-Olha Léo,essa conversa tomou um rumo desagradável-Aline disparou,nervosa -Obrigada pelo convite,mas agora vou embora-disse levantando-se.

-Não,não...Não vai embora-Léo acudiu rapidamente-Desculpa,Aline,eu...eu não quis magoá-la.

-Tudo bem-disse a garota tentando se acalmar-Mas é sério,eu to indo nessa.

-Tá,tudo bem...Mas deixa eu te acompanhar.

-Não precisa.Eu sei o caminho.

Léo acompanhou a garota até a portaria.

-Me perdoa,Aline.De verdade-o rapaz pediu,tentando reconquistar a confiança da menina.Ela apenas confirmou que aceitava o pedido de desculpas acenando com a cabeça e saiu.

Aline foi andando lentamente pela rua,pensativa.Ficara realmente chateada com os comentários de Leonardo.Mas será que ele tinha razão?Será que Rick não gostava mais dela mesmo?Teve vontade de chorar.Perder a amizade de Rick era algo que ela nunca quis,mas agora,ao pensar que poderia ter perdido não só sua amizade,mas também todo seu carinho e afeição era algo pior ainda.Logo agora que havia despertado para um sentimento mais profundo pelo amigo,parecia ser tarde demais.

A garota continuou andando vagarosamente.De repente,começou a ouvir uns passos atrás de si.A princípio pareciam longe,mas depois foram se aproximando mais e mais,até que a menina sentiu um toque em seu ombro que a fez estremecer.Sentiu medo.Virou-se bruscamente para ver de quem se tratava e seu coração bateu mais forte,não mais de medo,mas de alegria ao ver a tranqüila e agradável figura de Richard.

-Fazendo o que na rua uma essas horas?-o rapaz perguntou.

-É que...que-Aline gaguejou-Eu estava na pizzaria da esquina.To voltando agora.

-E nem me convidou pra comer o pizza?-Rick perguntou sorrindo.

Aline sorriu,tentando afastar o nervosismo que tomara conta de si.Quem diria,sentir-se nervosa diante de seu velho e habitual amigo Richard.

-Eu teria convidado com o maior prazer,mas ultimamente não temos nos falado muito...

-É verdade...-o rapaz concordou.

Os dois continuaram caminhando em silêncio,ambos de cabeça baixa.Aline lembrou-se do conselho de Dani quanto a retomar a amizade com Rick,e reconheceu que aquele era o momento para fazer isso.Enquanto iam andando,a menina foi escolhendo bem as palavras para iniciar uma conversa.Quando chegaram à frente da República,Aline tomou coragem.

-Rick,eu gostaria de conversar com você.

-Mesmo?-Rick perguntou,um tanto surpreso.

-É...Será que podemos conversar agora?

-Claro!

Aline “limpou” a garganta e iniciou:

-Rick,eu ando meio chateada.

-É?Com quem,comigo?

-Sim.Com você.

Rick ficou olhando para a garota,esperando uma explicação.

-É que...Nós sempre fomos tão amigos,nos conhecemos há tanto tempo,e nossa amizade ao invés de progredir,parece que regrediu!

Rick assumiu uma expressão confusa.

-Você acha?-o rapaz perguntou.

-Claro que eu acho!Escuta,qual foi a última vez que nós conversamos?

Rick fez uma cara de quem estava forçando a memória para lembrar.

-Tá vendo?Você nem se lembra...-continuou Aline-Não acha que está na hora de tomarmos uma atitude?

-É verdade...-concordou o rapaz,pensativo-Precisamos tomar uma atitude...

Aline balançou a cabeça afirmativamente.Rick a olhou,em seguida aproximou-se e deu-lhe um abraço bem apertado.

-Ué,por que me abraçou?-Aline perguntou sem entender.

-Você não disse que precisávamos tomar uma atitude?Então eu tomei!

Aline deu risada.Aquele era o Richard que ela conhecia.

-Nunca é tarde pra recomeçar,não é?

-É...-disse Rick sorrindo-Amigos?-falou o rapaz,estendendo a mão para a garota.

-Amigos!-respondeu Aline,correspondendo ao aperto de mão.Rick aproximou-se novamente da garota e ambos se abraçaram desajeitadamente.Dessa vez Aline correspondeu ao abraço sem surpresa,e os dois permaneceram envolvidos assim por instantes .A garota sentiu carinho e afeto naquele abraço.Não sentiu vontade de soltar o amigo.Ficaria assim por várias horas,ou dias,ou até mesmo pra sempre,não fosse Rick afastar-se logo.

O rapaz fitou Aline diretamente nos olhos.A menina também o encarou,e olhando dentro de seus olhos teve impressão de que o amigo queria lhe dizer algo,mas contrariando seu pressentimento,ele simplesmente deu um sorriso e saiu.Aline permaneceu parada,reflexiva.Queria saber o que se passara na cabeça de Rick no momento em que se olharam nos olhos.

Aline esperou que o amigo entrasse,e logo em seguida dirigiu-se também à porta principal da República.Se sentia incrivelmente bem e feliz,apesar dos acontecimentos anteriores a seu encontro inesperado com Rick.

Quando pôs a mão na maçaneta da porta,percebeu algumas vozes conturbadas vindas lá de dentro,seguida de uma grande agitação. “O que será que está havendo?”-pensou consigo mesma.Abriu a porta bruscamente pra ver do que se tratava,mas só o que conseguiu ver em meio à escuridão foi a figura indistinta de duas pessoas correndo.