Capítulo 9

-O que houve?Me conta o que aconteceu...-disse Aline,já prevendo que a situação era delicada.

-Será que podemos nos falar pessoalmente?

-Claro.Quando?

-Agora mesmo,se você não se incomodar.Eu to em Guarulhos na casa dos meus primos,a gente pode se encontrar em alguma lanchonete,ou qualquer lugar do tipo.

-Tudo bem.Que tal no shopping,no mesmo lugar onde nos encontramos aquele dia em que você estava com seus primos?

-Pode ser.

- Às 19:30 tá bom pra você?

-Tá ótimo.

-Ok.Então até lá.Na praça de alimentação do shopping,ok?

-Ok.

-Tchau,até mais.

-Até.

Aline desligou o telefone e olhou para o relógio na parede da sala.Eram 18:30.Teria tempo suficiente para se arrumar e ir ao encontro de Dani.

“O que será que houve com ela?”-a garota pensava enquanto deixava a água morna escorrer pelo corpo.Tinha lá suas desconfianças,mas não deveria tirar conclusões precipitadas enquanto não soubesse de toda a verdade.

Terminou de se banhar e se arrumou rapidamente.Às 19:00 saiu de casa.

Quando chegou no shopping,no ambiente da praça de alimentação,sentou-se numa mesa vazia,perto da entrada,pois achava que seria um lugar fácil para Daniela encontrá-la.

Após alguns minutos Dani chegou.Tinha no rosto a mesma expressão melancólica da última vez em que se viram na faculdade.As duas garotas se cumprimentaram e Dani sentou-se à frente de Aline.Pediram um lanche básico e ficaram ali,caladas.Aline esperava que Dani começasse,e Dani,por sua vez parecia também esperar que Aline tomasse a iniciativa.

-Bem...-as duas falaram juntas.Ambas deram risada,e Dani iniciou:

-Eu te chamei pra conversar porque...Bem,eu acho que você é a única pessoa que conheço que me inspira confiança-confessou a garota,esboçando um sorrisinho em seguida-Às vezes somos rodeados de muitos amigos,mas quando estamos passando por uma situação difícil,é duro perceber que na verdade você não tem confiança pra se abrir com nenhum deles.

Aline sorriu,com uma certa compaixão pela forma que Dani estava lhe dizendo aquilo,e ao mesmo tempo feliz por saber que a garota lhe considerava sua amiga e a única pessoa em quem podia confiar.

-Espero que compreenda a minha situação-Dani continuou-Eu sei que você é evangélica e não curte algumas coisas que quem não é cristão curte...

-Não se constranja por isso,Dani.Eu não vou te julgar por nada do que você pode ter feito.

-Obrigada.Bem,sem mais delongas,vou ser bem direta-Dani falou,dando um pausa,como quem está com receio-Eu...eu tô grávida,Aline.E...eu não sei o que fazer.

Aline fitou bem a amiga e viu um enorme sentimento de insegurança na expressão dela.Dani era uma pessoa tão despojada,tão despreocupada com tudo.Mas agora ela parecia tão frágil,tão receosa.

-E eu tenho medo de contar pros meus pais.Eles são um pouco rígidos,entende?

-Entendo.

-Eu não sei por onde começar.Sei que devo tomar uma atitude,mas não sei qual.Eu to totalmente perdida,essa é uma situação nova e inesperada pra mim.

Dani abaixou a cabeça,sem saber mais o que dizer.

-Você já contou pro Léo?-indagou Aline-Bem,é do Léo o filho que você tá esperando,não é?

-Claro!É dele sim.Mas eu ainda não contei nada pra ele.

Aline respirou fundo,pensou,e respondeu:

-Olha,Dani.Eu acho que a primeira coisa que você deve fazer é contar pro Léo.Ele precisa saber do que está acontecendo e juntos vocês podem tentar encontrar um solução.

Dani acenou com a cabeça que sim.

-E aí você conta pros seus pais que está grávida,e diz o que você e o Léo decidiram.Isso é indispensável.Se for possível,chame o Léo pra contar junto com você.

-Tá...

-E o mais importante,Dani...Confie em Deus.

Dani fitou Aline com uma expressão séria,e depois balançou a cabeça,concordando.

-Eu sei que o momento é difícil,mas Deus vai te ajudar,se você confiar nEle.

-Tá,vou confiarsim.

-Não desanime se houver algum contratempo,ou se alguma coisa parecer dar errado.Só confie.E conte comigo também,pra qualquer coisa que você precisar.

-Tá-a garota respondeu,limpando uma lágrima que caía pelo rosto-Eu sabia que poderia confiar em você,Aline.

Aline sorriu e pegou na mão da amiga.

-Pode contar comigo sempre.

Dani sorriu,mas em seguida assumiu uma expressão séria.

-E se o Léo não gostarda notícia?

-Bem...Se ele não gostar provavelmente vai ser por que ficará um pouco assustado com a nova situação.Ele nunca deve ter passado por isso antes.Não fique tão preocupada se ele parecer não gostar no início.

-E os meus pais,será que vão reagir mal?

-Olha,geralmente os pais não reagem tão bem ao saberem da notícia.Mas é uma questão de tempo,eles vão se acostumar.E mesmo se não gostarem no início,você vai ver só como vão ficar felizes quando pegarem o netinho nos braços.

Dani sorriu.

-É,pode ter certeza.

-Não se atemorize,Dani.No início tudo vai ser difícil,mas aos poucos tudo vai voltando ao lugar.Temos que ser realistas,você vai acabar sofrendo um pouco com tudo isso,mas não veja isso como um castigo.Um filho é uma benção de Deus,porém será uma consequência do ato impensado que você cometeu.

-É,eu sei.

-Mas não desanime.Agora isso pode ser um problema pra você,mas em bem pouco vai se transformar em benção.

Após o encontro e o diálogo que tiveram,Dani saiu parecendo mais revigorada e com mais coragem para enfrentar a situação.

Aline voltou para casa meditativa.Passou uma boa parte da noite introspectiva,pensando na experiência que havia tido.Sentia-se feliz por ser vista com tão bons olhos por pessoas como Dani e Marise,a quem já ajudara também.

Foi engraçado como naquela hora em que ela acabava de pedir a Deus que fizesse de si um instrumento,naquela mesma tarde,Deus respondera-lhe imediatamente,dando a oportunidade de ajudar alguém necessitado.

Aquele fora um dos aniversários mais marcantes que Aline já tivera.Tinha impressão que dali pra frente só melhoraria,e a cada ano que passava,suas experiências com os amigos e com Deus só prosperavam.A expectativa era que tudo prosperasse ainda mais.