terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

3-Entre despedidas e velhas lembranças

Era sábado. Richard acordou com um barulho ensurdecedor dentro do quarto, e quando abriu os olhos viu que se tratava de Juan arrastando uns móveis pra fora do quarto. O rapaz levantou-se tentando abrir os olhos de uma vez, sem sucesso. Ainda estava com muito sono, pois na noite passada havia ficado até tarde embalando suas coisas.
-Desculpa cara, te acordei,né?-Juan se desculpou, enquanto descansava um pouco repousando uma cômoda no chão.
-Tudo bem, já estava na hora mesmo-Rick disse esfregando os olhos-Precisa de uma mãozinha aí?
-Ah eu aceito. Isso aqui tá muito pesado.
-Você deveria ter tirado as coisas de dentro antes.
-É-disse Juan, como se só aquela hora fosse pensar nisso-Mas agora já era.Vai levar muito tempo pra fazer isso.
-Então espera um pouco que vou tomar um banho e já volto. É rápido.
O rapaz tomou rapidamente uma ducha fria, o suficiente para despertar. Estava com fome também, mas o café da manhã poderia esperar.
Rick ajudou o amigo a colocar a cômoda até o carro e mais outros objetos. Não sabia por que Juan precisava de tanta coisa, ele e Rodrigo pelo menos não precisavam. E por falar em Rodrigo, ele percebeu que o rapaz não estava por lá, e seus pertences aparentemente também não.
-Cadê o Rodrigo?Já se foi?
-É, ele se foi logo cedo com a Vivian, eram umas 7:00 horas.
-Nem se despediu de mim, o ingrato.
-Ele até quis, mas você estava num sono tão profundo que ele não quis te acordar.
-Sei... Mas tudo bem, afinal, nós continuaremos nos vendo.
Depois de ajudar Juan a levar todas suas coisas para o carro, este o ajudou a levar as suas. Aline chegou logo após com seus pertences, que não eram muitos, e logo a tarefa estava terminada.
-Bom, obrigada Juan pelo auxílio-Rick agradeceu ao amigo com um sorriso sincero- Acho que já podemos ir-ele disse dando uma olhadela para Aline.
-É, eu também preciso ir-Juan respondeu, com uma expressão pensativa.
-Foi um prazer dividir esse quarto com você durante esses anos em que passamos juntos-Rick disse-Bem, mas acho que não precisamos ficar tristes com a despedida, não é mesmo? Continuaremos nos vendo de vez em quando, mesmo morando longe um do outro.
Juan assumiu uma expressão um tanto triste de repente. Deu um sorriso pouco expressivo.
-Bem, acho que será difícil nos encontrarmos de agora em diante. Eu estou de viagem marcada para a Espanha, vou morar com o meu pai.
Rick e Aline se entreolharam, surpresos.
-Poxa, é mesmo?-disse Aline- Bem, será uma pena você ir para tão longe, vamos sentir saudades-ela se aproximou dele para dar-lhe um abraço-Mas te desejo muito sucesso, Juan.
-Obrigada-ele respondeu, correspondendo o abraço.
-Vou sentir sua falta,amigão-Rick também lhe deu um abraço.
-Eu igualmente.
Juan tinha umas tímidas lágrimas nos olhos. Rick nunca tinha visto o rapaz assim. Logo ele,que sempre fora tão forte, tão altivo. O rapaz sentiu uma ponta de tristeza também.
-Eu vou, mas manterei contato. Aqui no Brasil está a minha vida, meus amigos. Não poderei ignorar isso.
Rick e Aline se entreolharam, sorrindo.
-E não poderei me esquecer especialmente de vocês. Me aturaram com paciência e ainda me fizeram sentir amado, apesar dos meus defeitos. Eu...amo vocês.

Pára tudo! Taí uma frase que nunca pensei ouvir da boca do Juan. Eu amo vocês? Nunca ouvi isso de amigo nenhum, muito menos de um homem, e apesar de achar meio estranho, isso vai permanecer na minha mente para sempre. E como uma lembrança boa.

-Nós também te amamos-Rick respondeu- Te desejamos muita felicidade e que a paz de Cristo te acompanhe sempre.
Juan envolveu os dois amigos num abraço em conjunto e se despediu. Rick e Aline observaram enquanto o rapaz entrava no carro e se afastava. O rapaz olhou para a namorada e percebeu que ela tinha lágrimas nos olhos, e embora tivesse também, não quis deixa-las cair. Apesar da situação comovente, queria manter sua postura forte e imponente.
-Poxa, nunca pensei que sentiria tanta tristeza quando fosse me despedir do Juan-Aline comentou enquanto entravam no carro.
-E eu também nunca imaginei que ele diria aquelas palavras e até choraria ao se despedir-Rick respondeu.
-É, foi certo da nossa parte ter tanta paciência com ele durante esses anos. Ganhamos uma amizade sincera da parte dele, e podemos ficar felizes por termos tido participação na mudança dele.
-É-o rapaz murmurou pensativo- Foi uma grande mudança.
-Se foi! Ele amadureceu muito durante esses anos.
Rick ficou lembrando mentalmente as situações em que Juan se envolvera durante o tempo em que passou na faculdade. Sorriu, já que não era preciso mais lamentar a falta de sensatez do amigo, já que ele agora tinha juízo.
-Aline, o que você acha de pararmos para comermos alguma coisa?-Rick perguntou, aproveitando quando chegaram ao centro de Guarulhos.
-Por mim tudo bem, embora eu não esteja com fome.
Os dois pararam no Mc Donalds. Aline pediu apenas um iorgute com frutas vermelhas, enquanto Rick pediu um cappuccino e um croissant.
-O que você vai fazer no Natal?-o rapaz perguntou enquanto mordiscava um pedaço do croissant.
-Provavelmente ficar com a minha família, como sempre faço nos fins de ano.
-O que você acha de dividir o tempo entre a minha casa e a sua? Acho que vamos fazer o amigo secreto com os jovens lá.
-Boa idéia. Passo um tempo com a minha família e depois vou pra sua casa.
-E para o réveillon, já tem planos?
-Ainda não.
-Bom, sendo assim, tenho uma surpresa reservada para o nosso réveillon. Bem, mas tudo vai depender do que você me responder.
-Como assim?
Rick pensou um pouco e falou:
-É uma surpresa, não posso contar detalhes agora. Por enquanto fique com sua imaginação.
-Ah não, você sabe como sou curiosa...Eu preciso responder o quê? Conta logo vai!
-Não posso, já falei demais, e se eu te contar, não vai ser surpresa!
-Poxa, não vou dormir essa noite de tanta curiosidade.
Rick sorriu.
-Contenha-se, logo logo você saberá do que se trata.
Aline parecia ansiosa. Mas Rick também mal poderia esperar para fazer a surpresa para sua amada, queria ver a sua reação. Estava preparando tudo tão minuciosamente. Nada poderia dar errado!
Quando os dois terminaram o lanche, saíram e chegaram até a casa da garota, o que não levou nem 10 minutos.
–Você não vai mesmo me contar a surpresa?-Aline perguntou, assim que o carro estacionou em frente à sua casa.
O rapaz lançou-lhe um olhar que disse tudo.
-Tá bem, vou esperar pela surpresa e não se fala mais nisso.
-Assim está bem melhor-ele respondeu.
-Vamos entrar um pouquinho?
-Não posso. Preciso ir logo pra minha casa arrumar as minhas coisas, pois nos próximos dias não terei tempo pra fazer isso.
-Eu entendo? Mas e aí, quando é sua entrevista com aquele diretor teatral?
-Segunda-feira.
-Você vai conseguir o emprego, tenho certeza disso.
-Espero em Deus que sim.
-Tchau-Aline disse dando-lhe um beijo-Nos vemos ainda hoje?
-À noite eu venho aqui.
-Então tá. Tchauzinho, se cuida.
-Tchau.
Rick observou a namorada entrar em casa e depois se foi. Quando chegou em sua casa, esta estava silenciosa, parecia que não havia ninguém. O garoto então subiu para o seu quarto levando seus objetos embalados.
Nossa! Que sensação boa sentiu ao entrar em seu velho quarto. Foram quatro anos dormindo praticamente todos os dias no quarto apertado da República, com outros dois colegas que, diga-se de passagem, roncavam muito durante a noite. Agora tinha um quarto novamente só pra si. O velho e bagunçado quarto de sempre era todo seu novamente. Observou a coleção de CDs, os livros de ficção de que tanto gostava e seus demais objetos espalhados desajeitadamente pela estante e sentiu-se feliz.
O rapaz começou a desembalar suas coisas e a guarda-las em seus devidos lugares. Logo ouviu um barulho vindo lá de baixo e percebeu que sua mãe havia chegado. Segundos depois ouviu uns passos em direção ao quarto, e logo Nancy apareceu na porta.
-Bom dia meu filho, faz tempo que chegou?
-Não,mãe, cheguei agora.E a senhora, aonde estava?
-Fui ao supermercado fazer compras.
-E cadê o Johnny?
-Foi resolver uns assuntos da empresa de seu pai.
-Aham.
-Estou feliz por tê-lo novamente de volta. E mais feliz ainda por vê-lo terminar mais uma etapa da sua vida. O meu garotinho agora já não é mais um garotinho, é um homem.
Rick sorriu.
-Um belo homem.
Nancy ignorou o comentário convencido do filho e continuou:
-Estou tão orgulhosa por vê-lo seguir sua vida com tanta responsabilidade, por tomar suas próprias decisões e agir como um verdadeiro adulto.
-Obrigada, mãe, esperei tanto por esse momento de crescer e ser independente. Já realizei meu sonho, certo mãe?
Nancy sorriu e balançou a cabeça negativamente.
-Errado, filho.Você ainda não é totalmente independente. Você ainda mora na minha casa, esqueceu?
Richard deu um sorriso amarelo.
-É, mas já tenho quase 22 anos, terminei a faculdade e pago minhas despesas.
-Mas você ainda me deve obediência, filho. Portanto, quero lhe pedir uma coisa.Ou melhor, pedir não,quero ordenar uma coisa-ela disse, mudando sua expressão de amorosa para brava-Que arrume esse quarto imediatamente, porque está uma bagunça! Quando é que você vai deixar de ser tão desorganizado assim e arrumar suas coisas hein, meu filho?
Rick fez uma careta.
-Vou descer e arrumar o almoço, mas quando subir quero ver toda essa bagunça arrumada, você está entendendo?
-Tá, tá bom-Rick respondeu meio desconcertado com a mudança de humor repentina de sua mãe.
Nancy fez uma pose de brava e saiu. Rick observou a cena sério e continuou a arrumar suas coisas. Segundos depois Nancy apareceu novamente à porta e chamou-lhe.
-Filho!
Rick olhou para a mãe.
-Eu te amo!-ela disse com um sorriso-E como sei que não terei mais muitas oportunidades de te tratar assim, porque logo logo você vai sair desta casa, quero aproveitar o máximo os últimos momentos.
Rick sorriu também e percebeu que estivera com saudades daquelas broncas, implicâncias e manifestações de carinho repentinas de sua mãe.

Taí mais um capítulo de "Aline", desculpem pela demora e espero que tenham gostado da narrativa-surpresa tendo o Rick como foco principal. Fiz isso com a sugestão dada pela Bia Suzena, e vou continuar intercalando as narrativas entre Rick e Aline até o fim dessa última parte da história. Obrigada a todos que continuam lendo pacientemente, e até mais! Se não postar na quarta, sábado posto o próximo capítulo.

3 comentários:

  1. Super Up!!! [a primeira a comentar o/?] OHo..
    eu quero dizer, Érica, que a espera valeu super a penaa... Eu amei a narrativa alternada, incluindo o Rick.. [tu realmente sabe o que fazer, heim? parabéns, querida!]a história tá leve, envolvente.. desse jeito eu poderia ler essa última parte em um dia só.. mas vou esperar ansiosa pelos próximos cap's] Deus a abençoe mais e mais..
    e que surpresa é essa que o Rick quer fazer? meldels!!

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  2. Obrigada...To aqui tentando adiantar os próximos capítulos e espero que gostem, pois pretendo usar um estilo diferente e envolvente nessa despedida de "Aline".

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  3. Está muito interessante esta narrativa alternada, uma boa sugestão da nossa também escritora Bia Suzena. A propósito, quem ainda não leu, leia AS LINHAS DO MEU MUNDO, desta também assídua leitora de ALINE.

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