Capítulo 28

Juntando-se todos os poemas, via-se claramente o nome de seu amigo formado pelas iniciais de cada frase do poema.

Razão do meu querer
Meu amor por ti percorre o espaço
E lhe busca tão longe...
Nas lembranças do seu querer tão doce
Você é a paixão do meu viver
A razão do meu querer
Que carrega meu dia de alegria
E que me faz sonhar de olhos abertos
Com carinho
De seu Admirador Secreto

Impossível de esquecer...VOCÊ
Tentei te tirar da minha mente
Tentei encontrar uma maneira finalmente
De aprender a viver longe de ti
Enganei meu coração
Tentando te esquecer
Tudo é em vão
Pois em cada parte de mim
Ainda há um pedaço de ti...


Como eu queria que as coisas fossem diferentes
Como eu queria que nesse teu coração tivesse um lugarzinho pra mim
Como eu queria ser quem fizesse teus olhos brilharem à minha presença
Teus lábios se abrirem lânguidos num sorriso suave …
Ao me ver chegar de mansinho pra você!!
Como eu queria......
Ser aquele que, avistado….pressentido…
Arrancasse da tua alma os sonhos mais sonhados
Como eu queria….ser a tua realidade


Há um lugar
Onde os sonhos fazem parte
E a realidade também
Onde o céu é azul
O imenso mar é cristalino
Cheio de algas, peixes corais...
Há um lugar
Uma ilha
Onde mora o amor...
É aqui que eu te espero
No azul do céu... no verde do mar...
Ao som dos pássaros... no calor do sol...
Na fresca brisa
Há um lugar
O nosso lugar...
Dentro de nossos dois corações
Que pulsam feito um só
Eu amo você!


Abençoado amor…..que chegou de mansinho…
Me enredou em seus carinhos como uma fina teia
Rompendo suave e persistente as minhas barreiras…
Vencendo meus medos e receios tolos
Curando as cicatrizes que a vida fez em mim
Afastando de mim o medo de tentar …de sofrer outra vez
Amo você


Repentinamente aparecestes
Sem recado
Sem aviso ao meu coração
Para que me preparasse diante da emoção
Desde o momento que te vi
muitas coisas mudaram
meus olhos brilharam
e desde este instante
dentro de mim, uma súbita paixão
nasceu
E assim é todos os dias
O amor nasce e renasce
Dia e noite e vice-versa
Fomos feito um para outro
E que seja sempre assim


Deixa que eu te ame
No silêncio da minha alma
No recanto dos meus sonhos
E na quietude dos meus lábios
A contemplar o sol que se esconde
A águia que voa em liberdade
E no canto da minha poesia solitária
Na calmaria do teu pranto
E na doçura da tua boca
A falar-me em versos mudos
A história de um amor

Aline examinava a “façanha”, incrédula. “Só pode ser coincidência.Richard é meu admirador secreto?” Revisou por várias vezes, obtendo sempre o mesmo resultado.Guardou novamente os envelopes no mesmo lugar, e pôs-se a andar de um lado para o outro, confusa.Seria uma brincadeira do amigo, ou realmente o que Vivian dizia era verdade?Se era mesmo Richard seu admirador secreto, como não percebera antes em suas atitudes?

Aline ouviu um barulho vindo do corredor. “Chegaram”- pensou. Continuou ali, ao lado de sua cama, examinando os poemas, esperando que sua irmã adentrasse ao quarto.Alguns minutos se passaram, mas nada de Karina entrar.Resolveu então descer.Abriu a porta do quarto e caminhou pelo corredor, no escuro.Parou na escada, estranhando o fato das luzes da sala e da cozinha permanecerem apagadas.Desceu, temerosa.Foi até a varanda, mas esta estava vazia.Pensou em voltar lá pra cima, para procurar pelos quartos, mas lembrou-se de olhar no escritório.Foi até lá, ainda temerosa.Debaixo da porta percebia-se claridade.A luz estava acesa.Abaixou-se um pouco e olhou na fechadura da porta.Viu um vulto passando rapidamente de um lado da sala para o outro.Aline afastou-se da porta, alarmada.Como a pessoa conseguira a chave da porta do escritório de seu pai, que permanecia sempre trancada?Estariam sendo roubados?Examinou a fechadura.Nem sinal de arrombamento.O que deveria fazer?Buscar ajuda, ou esperar para ver de quem se tratava?Enquanto a menina maquinava o que fazer, a porta se abriu de repente, impetuosamente, de forma que nem deu tempo da garota correr.Aline soltou um grito.

-Calma!- disse uma voz calma.

Aline olhou para o homem, assustada.

-Papai?

-Te assustei meu anjo?

-Assustou sim- respondeu Aline, com a mão no coração, que batia desordenadamente.

Carlos ficou olhando para a filha, preocupado.

-Pensei que fosse um ladrão- falou Aline, tentando se recuperar do susto.

Aline recuperou o fôlego.Os dois ficaram se olhando por instantes, depois soltaram uma gargalhada.

-Ai filha, foi engraçada a cara que você fez quando me viu- disse o homem, imitando a cara assustada de Aline.

-É, mas a sua cara também ficou engraçada quando me viu.O senhor se assustou com o meu grito, não foi?

O pai da garota assentiu, ainda rindo.

-Mas, peraí...- disse Aline, com expressão confusa- O que o senhor tá fazendo aqui?Não deveria estar ainda viajando?

Nesse momento, a porta da sala se abriu, seguindo-se a luz acesa e as vozes invadindo a casa.Karina, Helena e Rodrigo entraram, pondo logo a vista em Aline e Carlos, que conversavam em frente ao escritório.

-Papai!- gritou Karina, correndo em direção a Carlos.

Carlos abraçou a filha, enquanto Helena vinha também em sua direção.

-Ué, por que voltou tão rápido?- perguntou ao marido, preocupada.

-A negociação foi super rápida, e eu não precisei ficar lá por mais tempo.

-Mas como foi a negociação?

-Foi um sucesso!Já consegui liquidar toda a minha dívida!- respondeu o homem, sorridente.

-Mas que maravilha!- exclamou Helena, abraçando o marido.

Aline ficou contente.Havia acompanhado desde o início o sofrimento e esforço de seu pai após sua falência, e agora o via tão feliz e completamente livre de todas aquelas dívidas.

-Agora poderei pagar a faculdade da minha filha, e continuar pagando sem tanto esforço o colégio da outra-disse, sorrindo para Aline e Karina.As garotas se entreolharam, contentes com a conquista.

Carlos, que até esse momento mantia sua atenção voltada totalmente para a mulher e as filhas, notou Rodrigo ali, parado, observando-os.

-Rodrigo!- exclamou, fazendo sinal para que o garoto se aproximasse.

Rodrigo achegou-se ao tio e o abraçou.

-Como cresceu esse garoto- disse Carlos, olhando admirado para o rapaz.

Rodrigo apenas sorria, timidamente.

-Quando você chegou?- perguntou o tio ao sobrinho.

-Hoje de manhã.

-Leandra também veio?

Rodrigo assentiu.

-Onde está ela?

-Já foi dormir- respondeu Aline.

Carlos balançou a cabeça, em sinal de compreensão.

-Você jantar, comer alguma coisa?-perguntou Helena ao marido.

-Não... Eu jantei quando cheguei ao aeroporto.Quero agora descansar.

Era tarde já, e todos dirigiram-se aos seus quartos, sonolentos.Aline subiu, seguida por Karina.Deitou-se logo em sua cama, enquanto a irmã continuou ainda algum tempo de pé.

Aquela noite havia acontecido muitas coisas, aliás, desde a noite anterior, muitas coisas haviam sucedido, iniciando pelo episódio da festa de Elen, passando pela despedida de Beto e finalmente terminando na descoberta de seu admirador secreto e na repentina chegada de seu pai.Ficara exausta com tantas surpresas e ocorrências.Sua mente estava cheia, e a garota não sabia nem em que pensar.Afinal, eram tantas coisas de uma só vez.

No dia seguinte, Aline acordou com o barulho do despertador.Karina acordou na mesma hora, e levantou-se imediatamente.Aline decidiu continuar mais algum tempo deitada até que sua irmã desocupasse o banheiro.

Quando Karina terminou seu banho, Aline levantou-se e foi tomar o seu.Ao término,se arrumou, foi até sua gaveta, pegou os envelopes de seu admirador, que não era mais secreto, e colocou-os dentro de sua bolsinha.Desceu à cozinha, com sua bolsinha à tiracolo.Todos já estavam à mesa, inclusive Leandra e Rodrigo.Tomaram o café da manhã, estranhamente calados.Aline passava os olhos por cada um deles, achando esquisito o silêncio.Todos tinham expressões cansadas estampadas no rosto, provavelmente pela agitação do dia anterior.Tão logo terminaram o café da manhã, conduziram-se ao carro, em direção à igreja.

Chegando na portaria do templo, Leandra pegou no braço de Aline, para entrar junto com a prima.

-Seu lugar é na sala das crianças, pirralha!- provocou Karina.

-Eu não vou pra sala das crianças!

-Você não vai, Le.Mas na sala dos jovens você não pode ficar, vai ter que ir para a classe dos adolescentes.

-Ahh...- reclamou Leandra, decepcionada.

Karina entrou na frente ,dando risada de Leandra.Aline indicou para a prima a sala dos adolescentes e subiu com Rodrigo para a galeria.

A classe estava um pouco vazia ainda, e dessa vez Douglas achava-se presente na reunião.O homem estava sentado em seu lugar, à frente da classe, conversando com Rick.Aline passou olhando para o amigo.Richard olhou para a garota, rapidamente.Aline sentou-se ao lado de Vivian, e Rodrigo ao lado da prima.Apresentou o garoto à amiga, rapidamente, antes que a aula se iniciasse.Rodrigo pareceu impressionado com a garota, mas esta não lhe deu a mínima.

Aline correu a vista pela classe e percebeu que faltava bastante gente.Lucas e Patrícia não faziam-se presentes, e além deles, mais alguns outros, inclusive Fernando.

A aula foi iniciada por Douglas.O professor discorria sobre a passagem de 1Samuel 13.14, em que era anunciada a vocação de Davi, todavia sem a citação de seu nome.

Aline percebia olhares de Rick para ela no decorrer da aula.A garota lançava também vários olhares para o amigo.Tentava descobrir o que Rick continuava tencionando dizer-lhe com o olhar, e dessa vez já fazia idéia do que poderia ser.

Ao término da aula, Aline ansiava por dirigir-se ao amigo, mas Vivian a prendia, tagarelando e tentando chamar a atenção da amiga sem parar.Aline ouvia, inquieta, olhando o tempo todo para o lado.Vivian, percebendo a inquietação da amiga, olhou para o lado, compreendendo que Aline tinha sua vista em Rick.

-O que foi Aline?

-Preciso fazer uma coisa- disse Aline, abrindo a bolsa, e tirando de dentro os envelopes.A garota dirigiu-se a Richard, que se encontrava de costas para ela, em frente à escada, falando com alguém lá em baixo.Aline tocou firmemente no ombro do rapaz, para que este notasse sua presença, e Rick virou-se, surpreso.

-Oi Aline...

Aline não respondeu.Colocou à mostra os envelopes que tinha em mãos, pondo-os praticamente na frente do rosto de Rick.O garoto observou os envelopes, surpreso.

-Reconhece esses envelopes, Richard?